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Com mediação egípcia, entra em vigor trégua entre Hamas e Israel

Por MARWA AWAD E NIDAL AL MUGHRABI
Atualização:

Israel e o movimento islâmico Hamas, que governa a Faixa de Gaza, aderiram na quarta-feira um cessar-fogo mediado pelo Egito, após oito dias de um conflito que matou 162 palestinos e 5 israelenses. Os dois lados travaram combates até as 21h (17h em Brasília), quando as hostilidades deveriam cessar. Várias explosões sacudiram a Cidade de Gaza, e foguetes caíram na cidade israelense de Beersheba. Mesmo após o horário estipulado, uma dúzia de foguetes de Gaza caiu em Israel, todos em terrenos desabitados, segundo um porta-voz policial. Se respeitada, a trégua garantirá aos 1,7 milhões de moradores de Gaza um alívio após vários dias de ferozes bombardeios aéreos, além de conter a saraivada de foguetes disparados por militantes palestinos, que enervavam a população do sul de Israel e pela primeira vez atingiram as regiões de Tel Aviv e Jerusalém. "Allahu Akbar (‘Deus é grande'), caro povo de Gaza, vocês venceram", berraram os alto-falantes de uma mesquita na região, na hora em que a trégua entrou em vigor. "Vocês quebraram a arrogância dos judeus." Depois de 15 minutos, tiros disparados em celebração ecoaram pelas ruas escuras de Gaza, que gradualmente se encheram de pessoas agitando bandeiras palestinas. Mulheres saíam nas janelas, e fogos de artifício iluminavam o céu. Líderes do Hamas comemoraram o acordo, qualificando-o como um triunfo da resistência armada, e agradecendo ao Egito por seu papel. Alguns israelenses realizaram protestos contra o acordo, especialmente na cidade de Kiyat Malachi (sul), onde três israelenses foram mortos por um foguete de Gaza durante o conflito, segundo a Rádio do Exército. Ao anunciar um acordo no Cairo, o chanceler egípcio, Mohamed Kamel Amr, disse que a mediação "resultou em entendimentos para cessar fogo, restaurar a calma e paralisar o derramamento de sangue". Ao lado de Amr, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, agradeceu ao presidente islâmico do Egito, Mohamed Mursi, por ter demonstrado "responsabilidade e liderança" na sua iniciativa. "SEVERA AÇÃO MILITAR" O conflito de Gaza ocorre em um Oriente Médio já sacudido pelas rebeliões árabes, que derrubaram vários veteranos governos aliados dos EUA, inclusive o do egípcio Hosni Mubarak. Outra consequência dessas rebeliões foi a guerra civil ainda em curso na Síria. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse ter concordado em "esgotar esta oportunidade de uma paz estendida", mas disse ao seu povo que uma abordagem mais dura pode ser necessária no futuro. "Sei que há cidadãos esperando uma ação militar mais severa, e talvez precisemos disso", afirmou. Netanyahu, favorito para obter um novo mandato nas eleições de janeiro, já havia transmitido uma mensagem semelhante em uma conversa telefônica com o presidente dos EUA, Barack Obama, segundo seu gabinete. Obama, por sua vez, reiterou o compromisso dos EUA com a segurança de Israel, e prometeu buscar verbas para um programa conjunto de defesa com mísseis, segundo a Casa Branca. Em uma provocação a Israel, o líder do Hamas no exílio, Khaled Meshaal, disse no Cairo que o Estado judeu fracassou na sua "aventura" militar, mas prometeu preservar a trégua se os israelenses a respeitarem. Ismail Haniyeh, primeiro-ministro de Gaza e chefe do Hamas, disse: "Estamos satisfeitos e orgulhosos desse acordo, e com a firmeza do nosso povo e com sua resistência". BLOQUEIO ATENUADO Segundo o texto do acordo obtido pela Reuters, os dois lados devem suspender todas as hostilidades, e Israel precisa parar de fazer incursões e atacar indivíduos específicos. Ao mesmo tempo, todas as facções palestinas precisam cessar os disparos de foguetes e os ataques transfronteiriços. O texto prevê também que Israel atenue suas restrições ao movimento de pessoas e produtos na Faixa de Gaza, que está submetida a um bloqueio qualificado pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron, como uma "prisão a céu aberto". Os procedimentos para que o bloqueio seja atenuado serão definidos nas próximas 24 horas, segundo o texto. Fontes de Israel disseram, no entanto, que o país não irá suspender o bloqueio imposto a Gaza desde 2006, quando o Hamas - que rejeita o direito de Israel a existir - tomou o poder no território palestino litorâneo. O cessar-fogo foi obtido apesar do atentado a bomba que matou 15 israelenses num ônibus em Tel Aviv, horas antes, e apesar dos novos ataques aéreos israelenses que mataram dez pessoas em Gaza. Israel realizou mais de 1.500 ataques nessa ofensiva que começou com a morte de um chefe militar do Hamas, e com o objetivo declarado de impedir que militantes disparassem foguetes. Fontes médicas em Gaza dizem que 162 palestinos morreram durante a ofensiva, sendo mais de metade deles civis, incluindo 37 crianças e 11 mulheres. Quase 1.400 foguetes foram disparados contra Israel, matando quatro civis e um soldado, segundo militares.

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