18 de maio de 2011 | 10h31
Centenas de manifestantes furiosos empunhando espadas e machados tomaram as ruas de Taloqan, pequena cidade normalmente pacífica da província de Takhar, entoando "Morte à América", e tentaram invadir uma base militar estrangeira nas proximidades.
A polícia local e moradores dizem que as quatro pessoas mortas no ataque no final da noite de terça-feira em Taloqan eram civis. As forças lideradas pela Otan afirmam que os mortos eram insurgentes armados.
No Afeganistão é muito raro haver mulheres combatentes nas fileiras insurgentes, e as poucas que foram identificadas são na maioria estrangeiras. Um porta-voz da Otan disse não conhecer a nacionalidade das mulheres mortas.
A morte acidental de civis por tropas estrangeiras é uma grande fonte de atrito entre o presidente afegão, Hamid Karzai, e seus aliados ocidentais, e complica os esforços para conquistar o apoio dos afegãos comuns a uma guerra cada vez mais impopular.
Os ataques noturnos causam profunda revolta e ressentimento nos afegãos por conta das mortes acidentais e do que muitos veem como uma afronta à sua dignidade. Segundo dados da ONU, os insurgentes são responsáveis pela vasta maioria das mortes civis.
Em Taloqan, os manifestantes atiraram pedras e punhados de lama em um cartaz de Karzai e também entoaram "morte a Karzai".
O corpo de um dos quatro mortos no ataque, envolto em um cobertor verde, foi erguido em uma maca de madeira e conduzido pelo meio da multidão.
A polícia e as forças de segurança afegãs abriram fogo para dispersar a aglomeração, que o chefe de polícia de Takhar, Shah Jahan Noori, estimou em três mil pessoas depois que a violência cresceu.
"Não há mais espaço no hospital, já está lotado de feridos", disse Hassan Baseej, responsável pelo hospital provincial, à Reuters. Ele afirmou que a maioria das vítimas tinha ferimentos de tiro.
As mais recentes mortes de civis ocorrem em um momento de intenso sentimento anti-ocidente. No mês passado, sete funcionários estrangeiros da Organização das Nações Unidas foram mortos durante protestos contra a queima de um exemplar do Alcorão realizada por um pastor fundamentalista dos EUA.
Apesar da presença de cerca de 150 mil soldados estrangeiros no país, a violência no Afeganistão alcançou seus piores níveis no ano passado desde a deposição do Taliban, em 2001, com recorde de baixas em todos os lados do conflito.
O general David Petraeus, comandante das tropas estrangeiras no Afeganistão, intensificou os ataques noturnos desde que assumiu a missão no ano passado, a despeito dos pedidos de Karzai para que fossem proibidos.
(Reportagem adicional de Hamid Shalizi)
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