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Eleições regionais testam influência do premiê iraquiano

População decidirá neste sábado entre poder centralizado, como quer o primeiro-ministro Maliki, ou federação

Por Roberto Simon
Atualização:

Ao votar neste sábado, 30, nos candidatos aos conselhos provinciais, os iraquianos não estarão apenas escolhendo os representantes de 14 das 18 regiões nacionais. Por trás da eleição, está uma decisão sobre o futuro do país: terá o Iraque um Estado federalista, como querem os líderes locais, ou um arranjo centralizador, como defende o primeiro-ministro Nouri al-Maliki? Veja também: Entenda as eleições regionais no Iraque A questão transformou a votação em uma espécie de referendo sobre Maliki, cujas ambições renderam-lhe o apelido de "Saddam xiita" nas ruas de Bagdá. "O premiê defende uma agenda centralizadora e tem incorporado partes importantes do Estado com o objetivo de se eternizar no poder", disse por telefone ao Estado Matthew Duss, do Center for American Progress, de Washington. Mas Maliki tem tentado dar sinais de que respeitará os interesses regionais. Em um recente encontro com líderes locais em Kerbala, o premiê garantiu que "a mão-de-ferro da centralização acabou". No campo oposto ao de Maliki encontram-se a comunidade curda, concentrada no norte do país, e partidos xiitas, como o Conselho Islâmico Supremo do Iraque, populares em regiões ricas em petróleo, como Basra. Entre os 14.431 candidatos inscritos, os eleitores elegerão 440 membros dos conselhos, que, por sua vez, designarão os governantes locais. Esta será a segunda eleição provincial no Iraque. A primeira, realizada em 2005, foi amplamente boicotada, sobretudo pela comunidade sunita, que acabou sub-representada na cena política. Mas grupos que haviam ignorado a primeira votação garantiram que participarão no sábado. A nova realidade eleitoral, afirma Joost Hiltermann, da ONG Crisis Group, deve reduzir parte do poder dos partidos governantes, vistos como ineficientes e corruptos. Essas legendas, contudo, continuarão fortes, alimentadas pelo apelo religioso e pela apropriação de instituições públicas. "Os partidos governantes usam seu acesso a recursos e à patronagem para influenciar o voto. Diante da ausência de observadores internacionais, há um risco de fraude", disse Hiltermann. Outra ameaça que paira sobre a eleição é a violência. Só na quinta, três candidatos foram assassinados em Bagdá, Mossul e Mandili. A Al-Qaeda também prometeu novos ataques. Mas o novo espectro político pode reduzir as tensões, dizem analistas. Um exemplo seria Mossul, de maioria sunita e um dos bastiões da Al-Qaeda. Após de terem boicotado a eleição de 2005, os sunitas devem retomar o governo local, o que pode reduzir a tensão sectária.

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