O fornecimento de energia elétrica à Faixa de Gaza tornou-se nesta segunda-feira, 20, o novo foco da disputa de poder entre o grupo islâmico Hamas e o movimento rival Fatah nos territórios palestinos. Dirigentes do Fatah acusam o Hamas de ter embolsado a receita com os serviços de distribuição de energia. Por sua vez, líderes do grupo islâmico negam a acusação e denunciam que um ex-diretor filiado ao Fatah foi o verdadeiro responsável pelo desvio. Os perdedores da disputa são centenas de milhares de habitantes de Gaza que ficaram no escuro depois de a União Européia (UE) ter cortado a ajuda energética à região. O território palestino litorâneo tem 1,4 milhão de habitantes. No domingo, a UE parou de pagar pelo combustível utilizado nos geradores da Companhia Geradora de Gaza, que atendem à demanda de cerca de metade da população de Gaza e informou nesta segunda que os repasses serão retomados somente depois da confirmação de que o Hamas não estaria "desviando" as receitas com eletricidade. "Estamos prontos para retomar em poucas horas o apoio energético a Gaza desde que recebamos garantias aceitáveis de que todos os recursos estejam sendo utilizados exclusivamente em benefício da população", informou a Comissão Européia, órgão executivo da UE, por meio de um comunicado divulgado nesta segunda. O Hamas assumiu o controle total de Gaza em meados de junho, quando derrotou militarmente o Fatah, do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas. O movimento de Abbas, que ficou com o controle da Cisjordânia, acusa o Hamas de ter embolsado a ajuda energética da UE. "O Hamas está arrecadando as tarifas elétrica e não paga pelo custo da eletricidade", acusou Jawwad Hirzallah, vice-ministro da Economia da ANP, leal a Abbas. "Os europeus pagam pelos € 7,4 milhões que o Hamas arrecada junto à população sem arcar com os custos. Com isso, a União Européia paga à companhia energética enquanto o Hamas embolsa o dinheiro", alegou. Envolvimento do Hamas No mês passado, o Hamas deteve o diretor-executivo da companhia elétrica, filiado ao Fatah, com base em acusações de corrupção e desvio de dinheiro. O Hamas nega ter embolsado o dinheiro e acusa o governo instalado em Ramallah de promover uma campanha para lançar em descrédito o grupo islâmico por meio da crise energética. "O governo de Gaza não está envolvido nas operações da companhia elétrica", disse Ala Araj, um conselheiro político do Hamas. "Nos próximos dias, o governo anunciará o resultado das investigações sobre o ex-diretor da companhia, responsável pelo roubo do dinheiro doado pela UE", afirmou. Nas últimas semanas, agentes do Hamas promoveram uma campanha de porta em porta para arrecadar o dinheiro de pagamentos atrasados das contas de luz entre os habitantes de Gaza. Enquanto o Hamas nega que controle diretamente a companhia, o Fatah insiste que a detenção do diretor é uma evidência de que o grupo controla a empresa. Jehad Hamad, um analista político baseado em Gaza, comentou que a crise energética é apenas um dos muitos focos da briga de poder entre Hamas e Fatah para ficar em posição privilegiada na disputa. Ainda segundo Hamad, o governo em Ramallah pode estar preocupado com a possibilidade de o Hamas ter encontrado provas de corrupção praticada por integrantes do Fatah no passado. O isolamento internacional de Gaza acentuou-se depois que o Hamas tomou o poder. A usina em questão já havia deixado de atender a grande parte de Gaza na semana passada, quando Israel fechou um entroncamento de fronteira pelo qual passava o óleo diesel usado para manter os geradores em funcionamento. A passagem de fronteira foi reaberta ontem, mas a empresa israelense que transporta o combustível informou que a União Européia (UE) recomendou que não fossem entregues novas remessas de óleo diesel porque ela não se responsabilizaria pelo pagamento. Fronteira com Israel Parte de Gaza sofre com a falta de luz desde a semana passada, quando a Companhia Geradora de Gaza, responsável pelo fornecimento de cerca de 25% da energia elétrica consumida no território, anunciou que quase todos os seus geradores teriam de ser desligados por falta de óleo diesel. A companhia atende à Cidade de Gaza e a outras áreas da região central do território palestino litorâneo. O restante da Faixa de Gaza é atendido pela Companhia Elétrica de Israel e pelo Egito. Praticamente todos os bens de primeira necessidade - como comida, combustível e matérias-primas - entram em Gaza por Israel, que mantém controle sobre todos os entroncamentos em sua fronteira. As passagens são freqüentemente fechadas pelos israelenses sob a alegação de terem recebido informações sobre tentativas de ataques planejados por radicais palestinos. Israel ocupou a Faixa de Gaza durante quase quatro décadas até retirar-se em setembro de 2005, quando desmantelou todos os seus assentamentos judaicos e bases militares mantidos na região e retirou-se do território palestino litorâneo no âmbito de um unilateral promovido pelo então primeiro-ministro Ariel Sharon. Entretanto, Israel manteve o controle sobre as fronteiras terrestres, o espaço aéreo e as águas territoriais de Gaza. O governo israelense autorizou a ANP a operar um terminal na fronteira com o Egito, mas o funcionamento do local depende da presença de observadores da UE e está sujeito a alertas de segurança emitidos por Israel. Todas as passagens de fronteira de Gaza estão fechadas desde junho, quando o movimento islâmico Hamas assumiu o controle total do território depois de cinco dias de violentos combates com forças do movimento secular rival Fatah. Somente comboios humanitários são permitidos.