A cúpula de paz para o Oriente Médio que começa nesta terça-feira, 26, em Annapolis, nos Estados Unidos, tem por objetivo consolidar o apoio internacional para a criação do Estado palestino. Para os críticos, a conferência é excessivamente despretensiosa, pois, em princípio, todos os lados concordam com a criação da Palestina. Membros do governo norte-americano esperam que o encontro na Academia Naval dos Estados Unidos seja um marco no estreitamento e na intensificação das negociações entre palestinos e israelenses. O encontro foi articulado ao longo dos últimos meses pela secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, que viajou em várias ocasiões para Israel e Cisjordânia para acertar os detalhes da Cúpula. Rice vê no encontro uma oportunidade para diminuir as tensões no Oriente Médio como um todo. Negociadores de ambos os lados vêm reunindo-se há meses para se preparar para a conferência. Os palestinos esperam uma declaração de princípios conjunta com os israelenses sobre assuntos-chave para a criação do Estado palestino. Eles também esperam que um cronograma para a criação de seu Estado seja apresentado. Já os negociadores israelenses rechaçam a idéia de uma declaração de princípios ou cronograma, mas o governo se compromete a limitar o aumento de assentamentos e a libertação de mais de 400 palestinos que estão detidos em prisões israelenses. Convidados Cerca de 50 Estados e organizações foram convidadas para a cúpula, entre eles o Brasil. A maioria, no entanto, não tem ligações com o conflito. Numa manobra surpreendente, a Arábia Saudita afirmou na última sexta feira, 23, que seu ministro do Exterior, Saud al-Faisal, estará presente no encontro. Al-Faisal insistiu, no entanto, que não pretende fazer jogos de cena: "Não estamos preparados para participar de um show teatral, com apertos de mão e encontros que não expressem posições políticas". A Síria também concordou em participar mandando seu vice-ministro do Exterior, Faisal Mekdad. Nenhum dos dois países mantêm relações diplomáticas com Israel, ao contrário da maioria dos países convidados. Os acordos que serão discutidos durante o encontro são os mesmos apresentados há sete anos, quando a última negociação independente foi congelada: dividir Jerusalém, definir as fronteiras de um futuro Estado palestino e discutir o que acontecerá com os refugiados palestinos exilados que viviam onde hoje é Israel. A oposição israelense em dividir Jerusalém talvez tenha tornado-se maior se comparada com a objeção apresentada pelo Estado judeu em 2000, pois houve um aumento dos assentamentos ao redor da cidade. Os ataques com mísseis palestinos ao território israelense também fizeram com que a oposição de Israel à retirada de colonos judeus da Cisjordânia crescesse. A ruptura entre palestinos militantes do Hamas e do Fatah indica que não haverá reivindicações unânimes do lado palestino. O Hamas, que venceu as eleições parlamentares da Autoridade Palestina em janeiro de 2006, porém, não terá representantes em Annapolis. Cronograma Na tarde de segunda-feira, 26, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, manteve reuniões separadas com o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, na Casa Branca. Essas conversações bilaterais deverão ser retomadas na quarta-feira, 28. Também na segunda, Bush pronunciará um discurso aos líderes das delegações durante um jantar encabeçado pela secretária de Estado Rice. Na terça, 27, o presidente dos EUA fará uma reunião com os líderes israelense e palestino em Annapolis, e pronunciará um discurso. O evento será seguido por três reuniões a portas fechadas em que serão debatidos o apoio internacional a um possível Estado palestino, o desenvolvimento econômico palestino e a paz no Oriente Médio. Não está claro como o encontro terminará, pois não há objetivos concretos. Abbas e Olmert deverão fazer um pronunciamento conjunto em que expressarão os resultados da cúpula. Caso isso não ocorra, o Quarteto de Madri - formado por Estados Unidos, União Européia, Rússia e Reino Unido - deverá registrar o que viram ao longo da conferência para firmar parâmetros para um acordo apoiado pela comunidade internacional. Críticos do encontro afirmam, porém, que a reunião é oportunista e que o desapontamento gerado por seu possível fracasso em apresentar algo mais substancial poderá fortalecer os que se opõem a cooperar.