França não vê indícios de que presidente sírio seja derrubado logo

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Por JOHN IRISH E OLIVER HOLMES
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A França disse nesta quinta-feira que não havia sinais de que o presidente sírio, Bashar al-Assad, estivesse prestes a ser derrubado, algo que Paris vinha dizendo que estava para acontecer havia meses. O levante contra o governo de Assad fez quase dois anos. Sessenta mil sírios foram mortos e outros 650.000 agora são refugiados no exterior, segundo a Organização das Nações Unidas. A França, antiga colonizadora da Síria, é um dos principais partidários dos rebeldes que tentam derrubar Assad, e foi o primeiro país a reconhecer a coalizão opositora. "As coisas não estão se movendo. A solução pela qual esperávamos, e com isso eu quero dizer a queda de Bashar e a chegada da coalizão (da oposição) ao poder, não aconteceu", disse o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, em seu discurso anual de Ano Novo para a imprensa. Fabius afirmou à rádio RFI em dezembro que "o fim está chegando" para Assad. Mas, na quinta-feira, ele disse que a mediação internacional e as discussões sobre a crise, que começou em março de 2011, não estavam indo a lugar algum. "Não há sinais positivos recentes", disse. Ele acrescentou que líderes da oposição síria e delegados de cerca de 50 nações e organizações vão se reunir em Paris em 28 de janeiro para discutir como cumprir compromissos anteriores. Assad resistiu a todas as tentativas de forçá-lo a renunciar e liderou uma repressão impiedosa contra o que ele chama de terroristas apoiados pelo exterior. A televisão estatal síria mostrou o presidente na quinta-feira visitando uma mesquita para celebrar o nascimento do profeta Maomé. Assad apertou as mãos de membros do governo e sorriu, mas não discursou. Enquanto isso, forças do Exército sírio bombardearam áreas do país mantidas pela oposição com artilharia e ataques aéreos, e insurgentes entraram em confronto com a infantaria, disse a oposição. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, com sede na Grã-Bretanha e que monitora a violência na Síria, informou que seis civis, incluindo uma mulher e duas crianças, foram mortos em Homs nesta quinta-feira, quando um avião bombardeou a casa deles. Na extremidade sudoeste da capital, a artilharia atingiu o bairro rebelde de Daraya, disseram moradores em Damasco. "Houve um bombardeio muito forte durante a noite da montanha sobre Daraya", disse um morador do centro de Damasco. O Exército de Assad tem usado a montanha de Qasioun, a oeste de Damasco, como terreno elevado para bombardear bairros da oposição. "(As explosões) pareciam enormes caminhões caindo do céu, um caminhão de cada vez", disse um morador sob condição de anonimato. "Senti as minhas janelas tremerem". O Exército e os insurgentes estão presos em um impasse militar há semanas, mas os rebeldes foram capazes de capturar algumas bases militares. Nesta semana, os rebeldes tomaram o controle de uma base de mísseis no norte do país, segundo imagens da oposição, potencialmente ganhando acesso a armas poderosas de longo alcance. Mas o Exército fortificou posições na capital e nas principais bases militares e é raro que qualquer lado faça um avanço significativo. Embora a França tenha descartado enviar armas para os rebeldes, vem pressionando a União Europeia a rever seu embargo de armas. Até agora, Paris e outros aliados ocidentais não conseguiram convencer Rússia e China, que continuavam a bloquear uma ação mais forte da ONU contra Assad, a mudar de posição. "A França continua, como outros, tentando encontrar uma solução para que Bashar seja substituído e para que uma Síria unida, que respeite todas as comunidades, seja alcançada. No entanto, estamos longe disso", disse Fabius.

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