Iêmen é terreno fértil para radicalismo, diz diplomata da ONU

Para coordenador de monitoramento do Taleban e Al-Qaeda, mazelas do país contribuem para terrorismo

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Por Luiz Raatz
Atualização:

Dividido por movimentos separatistas e rebeliões religiosas e país mais pobre do Oriente Médio, o Iêmen se tornou em 2009 lar da Al-Qaeda na Península Arábica, grupo terrorista inspirado pela rede de Osama bin Laden formado por sauditas e iemenitas.

 

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De acordo com Richard Barret, coordenador da equipe de monitoramento do Taleban e Al-Qaeda da ONU, o país é um terreno fértil para atividades radicais islâmicos e os EUA terão de intensificar a ajuda antiterrorismo no país para debelar esta nova ameaça, depois que um terrorista nigeriano tentou explodir um avião que ia de Amsterdã a Detroit no último Natal. Leia a íntegra da entrevista.

 

Por que estas franquias da Al-Qaeda surgiram no mundo islâmico?

Acredito que sempre houve um certo grau de apoio à Al-Qaeda em muitos países. No caso da Al-Qaeda na Península Arábica, a Arábia Saudita sempre foi um alvo da Al-Qaeda. E sempre foi muito efetiva em ações de contraterrorismo. E isso empurrou muitos ativistas para o Iêmen. Em janeiro de 2009 eles se juntaram.

 

Antes disso, o Afeganistão era a base e de lá partiam para formar grupos locais. E até mesmo antes do 11 de setembro, havia grupos militantes na Somália e no Iêmen já tinha simpatia pela Al-Qaeda central. Depois dos atentados, estes grupos locais se aproximaram da rede. No caso do Iraque, o grupo surgiu depois da invasão americana

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E qual a relação destes grupos com a Al-Qaeda no Afeganistão?

O elo é relativamente fraco. Eles seguem a mesma estratégia, e sem dúvida mantêm contato. Mas não é algo em bases diárias. No geral, há um entendimento ideológico, mas não há ordens dadas pela base no Afeganistão e no Paquistão.

 

Você falava da Arábia Saudita. Qual o papel o país na contenção ao radicalismo islâmico?

A Arábia saudita tem um papel muito importante no mundo muçulmano, de modo geral, porque os dois locais sagrados [Meca e Medina] ficam lá e eles precisam cuidar deles. No passado, muitos sauditas entraram e auxiliaram a Al-Qaeda. Mas desde que as autoridades sauditas aumentaram a repressão contra o extremismo no Reino eles encontraram dificuldades para operar lá. Além disso, os sauditas tem um papel especial em conter o apoio à Al-Qaeda. Eles fazem muito isso por meio da internet, em salas de chat, e reabilitando terrorismo, além das operações de contraterrorismo.

 

E quanto ao Iêmen, que tem um governo enfraquecido e enfrenta rebeliões religiosas e civis? Porque a Al-Qaeda está lá?

Os radicais vão ao Iêmen porque é um local fácil de operar. Se as tribos dizem " OK, vocês podem ficar", eles serão deixados em paz pelo governo, que é muito fraco. Há muito desemprego, além da rebelião xiita e dos separatistas no sul. Há também os refugiados da Somália que fazem o problema mais grave. A população é muito jovem e pode ser facilmente atraída para a Al-Qaeda mesmo que não acreditem fielmente na ideologia deles.

 

E pode acontecer no Iêmen o que aconteceu no Afeganistão no final dos anos 90?

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Há algumas diferenças. Há muita pressão sobre o governo central. Além disso é um país muito novo (Unificado em 1990). Até 1994 havia uma guerra civil. Não é muito como o Afeganistão, que viveu anos de conflito até que o Taleban assumiu. Por mais que o governo do Iêmen é difícil que o país se torne algo como o Afeganistão do Taleban.

 

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Como o atentado frustrado do Natal vai influenciar nas políticas do governo Obama sobre o terrorismo?

É incrível como algo assim tenha um efeito tão imediato e domine a agenda política e da mídia. Não creio que vá ter algum efeito a longo prazo, mas haverá um efeito sobre Guantánamo. Será mais difícil repatriar os iemenitas lá. Além disso, os EUA, precisarão de um novo foco para o Iêmen. Terão de estar mais lá do que estão agora na área de contraterrorismo. Além disso os EUA terão de estar alerta para outras áreas do mundo, onde o terrorismo pode florescer e se recuperar. A Al-Qaeda central em si foi muito atingida com a guerra no Afeganistão nos últimos anos. Os EUA não vão querer ver algo similar acontecendo de novo.

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