Irã julga líderes reformistas por causa de distúrbios

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Por REZA DERAKHSHI E FREDRIK DAHL
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Um promotor iraniano pediu na terça-feira "punição máxima" a um dirigente reformista acusado de atentar contra a segurança nacional, o que é passível de pena de morte, no quarto julgamento em massa de opositores após os distúrbios pós-eleitorais deste ano. Saeed Hajjarian, que ficou deficiente depois de sofrer um atentado em 2000, está entre os diversos oposicionistas levados a julgamento sob a acusação de fomentarem as manifestações populares que se seguiram à eleição presidencial de junho. A oposição alegou fraude, e o governo reprimiu as manifestações com violência, na pior crise interna do país desde a revolução de 1979. A situação expõe uma profunda divisão na elite da República Islâmica, além de piorar ainda mais as relações do país com o Ocidente. "O promotor (...) pediu punição máxima a Hajjarian, considerando a importância do caso," disse a agência oficial de notícias Irna, acrescentando que ele é acusado de ter se encontrado com uma pessoa ligada ao MI6, serviço de inteligência do governo britânico. Em nota lida por um seguidor, Hajjarian disse ter cometido "grandes equívocos durante a eleição ao apresentar análises incorretas." "Peço desculpas à nação iraniana por esses equívocos," acrescentou, segundo a agência de notícias Fars. Analistas consideram os julgamentos como uma tentativa de enfraquecer a oposição moderada e acabar com os protestos. Vários dos acusados são membros do principal partido reformista do país, o Mosharekat, cuja página na Internet informou que cerca de 200 parentes dos réus se reuniram em frente ao tribunal, e que a polícia não conseguiu dispersá-los. No mesmo julgamento em Teerã, uma emissora estatal disse que o acadêmico iraniano-americano Kian Tajbakhsh foi acusado de agir contra a segurança nacional e de praticar espionagem, o que deve enfurecer Washington. Entre os réus estão também o ex-vice-ministro do Interior Mostafa Tajzadeh e o jornalista Saeed Laylaz, editor de um jornal econômico e crítico contumaz das políticas do presidente conservador Mahmoud Ahmadinejad. A Irna disse que os acusados foram "os mentores dos recentes distúrbios" pós-eleitorais, que as autoridades dizem ter sido estimulados por governos estrangeiros para desestabilizar o regime clerical. A maioria dos acusados ocupou cargos públicos durante o governo do moderado Mohammad Khatami (1997-2005), que neste ano apoiou o candidato derrotado Mirhossein Mousavi.

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