03 de julho de 2014 | 10h03
Os diplomatas, que conversaram com a Reuters no início da rodada de negociações de duas semanas entre o Irã e os Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Alemanha, Rússia e China, disseram que, apesar de alguma flexibilidade de Teerã, não seria fácil obter um acordo dentro do prazo estabelecido para 20 de julho.
A mudança de postura do governo iraniano a respeito do principal ponto de desentendimento nas negociações --o número de centrífugas que o Irã vai manter se um acordo for alcançado para restringir seu programa nuclear em troca do encerramento gradual das sanções sobre o país. Dar um desfecho à disputa de uma década sobre as ambições nucleares iranianas é considerado essencial para desfazer a tensão e evitar uma nova guerra no Oriente Médio.
"O Irã reduziu o número de centrífugas que deseja, mas o número ainda é inaceitavelmente alto", disse um diplomata ocidental à Reuters sob condição de anonimato e sem entrar em mais detalhes.
Na quarta-feira, uma autoridade de alto-escalão iraniana disse à Reuters que o país se recusou a reduzir sua atual exigência de permanecer com 50 mil centrífugas operando, cifra considerada por autoridades do Ocidente acima da necessária para o Irã manter seu programa nuclear, que diz ter objetivos estritamente civis.
"O Irã precisa de pelo menos 50 mil centrífugas e não 49.999", disse a autoridade iraniana. "Não vamos ceder sobre isso... A outra parte fala sobre alguns milhares e isso não é aceitável para o Irã."
Mas diplomatas ocidentais disseram que, a portas fechadas, o Irã não estaria mais insistindo nas 50 mil máquinas e havia sinalizado que aceitaria um número menor, mas a quantidade não foi especificada para não prejudicar as negociações.
O Irã possui hoje mais de 19 mil centrífugas, embora somente cerca de 10 mil estejam em funcionamento. As potências envolvidas querem que o número seja reduzido a poucos milhares, como garantia de que o Irã não possa rapidamente produzir urânio enriquecido para, caso tome a decisão, confeccionar uma bomba.
Teerã nega as alegações das potências ocidentais e de seus aliados de que esteja desenvolvendo a capacidade para produzir armas nucleares sob a fachada de um programa nuclear civil.
Autoridades iranianas se negaram a comentar de maneira direta sobre um suposto recuo a respeito das centrífugas.
"Como dissemos, estamos prontos para assegurar ao mundo que não estamos buscando bombas", disse outra autoridade de alto-escalão iraniana à Reuters. "Mostramos nossa boa-vontade, mas não vamos ceder a demandas que violem nossos direitos."
"Alguns milhares a mais ou a menos de centrífugas não faz diferença", acrescentou. "Nosso direito ao enriquecimento foi aceito por todas as partes envolvidas nas negociações... Há maneiras técnicas de dar garantias a ambos os lados para garantir direitos e remover preocupações."
(Reportagem adicional de Fredrik Dahl, em Viena, e Mehrdad Balali, em Dubai)
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