Israel diz que prefere diplomacia, mas está pronto para invadir Gaza

País está bombardeando dezenas de alvos na região desde a última quarta; autoridades locais dizem que mais da metade das vítimas fatais não eram combatentes

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Por Reuters
Atualização:

GAZA - Israel bombardeou dezenas de alvos em Gaza nesta segunda-feira, 19, e disse que, embora esteja preparado para intensificar a ofensiva enviando tropas, prefere a solução diplomática para encerrar os disparos de foguetes palestinos a partir do enclave. O Egito, que faz a mediação entre os dois lados, afirmou que um acordo para encerrar o conflito pode estar perto. O líder do Hamas disse que cabia a Israel pôr fim ao novo conflito começado pelo país. Israel afirmou que a ofensiva tem como fim interromper os ataques de mísseis palestinos. Doze civis palestinos e quatro combatentes foram mortos nos bombardeios, elevando a 90 o total dos mortos em Gaza desde o início dos ataques, na quarta-feira. Autoridades locais dizem que mais de metade das vítimas fatais era composta por não combatentes. Três civis israelenses também foram mortos. Após uma madrugada de relativa calma, militantes da Faixa de Gaza dispararam 12 foguetes contra o sul de Israel em um intervalo de dez minutos, sem causar vítimas, segundo a polícia israelense. Um dos projéteis caiu perto de uma escola, que estava fechada no momento. Entre os alvos atingidos em Gaza pelos mísseis israelenses na segunda-feira, está um bloco de torres abrigando a mídia internacional pelo segundo dia consecutivo. Uma pessoa morreu no complexo, descrita por uma fonte de dentro do grupo militante Jihad Islâmica como um de seus combatentes. Khaled Meshaal, líder do Hamas no exílio, afirmou que Israel não conseguiu alcançar seus objetivos. O grupo islâmico governa a faixa de Gaza, situada na costa. Segundo Meshaal, uma trégua era possível, mas o Hamas não aceitará a exigências israelenses. Primeiro, disse ele, Israel deve parar com os ataques e suspender o bloqueio ao enclave. "As armas da resistência pegaram o inimigo desprevenido", disse ele em uma entrevista coletiva no Cairo. "Quem começou a guerra precisa encerrá-la", afirmou ele, acrescentando que o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu pediu uma trégua, uma afirmação que uma autoridade israelense negou e disse ser falsa. Embora 84 por cento dos israelenses tenham apoiado a atual ofensiva a Gaza, de acordo com uma pesquisa do Haaretz, apenas 30 por cento queriam uma invasão. Além disso, 19 por cento gostariam que o governo trabalhasse para garantir uma trégua logo. Milhares de pessoas saíram às ruas de Gaza para velar quatro crianças e cinco mulheres que estavam entre os 11 mortos em um ataque israelense que destruiu uma residência de três andares no dia anterior. Os corpos foram envolvidos com a bandeira palestina e a do Hamas. Ecos de explosões eram ouvidos junto com os gritos de pesar e cantos de "Deus é maior". A morte desses 11 civis palestinos - nove de uma só família, abrangendo quatro gerações - em um bombardeio no domingo motivou novos apelos internacionais pelo fim dos seis dias de hostilidades. O fato também pode colocar em xeque o apoio ocidental a uma ofensiva que Israel diz ser justificada pela autodefesa, após anos sofrendo ataques de foguetes. Israel afirma que investiga o ataque aéreo que destruiu a casa sobre a família Al-Dalu. Alguns jornais israelenses disseram que uma casa errada pode ter sido alvejada por engano. Trégua. O Egito, onde o presidente recém-eleito Mohamed Mursi tem suas raízes na Irmandade Muçulmana, considerada mentora do Hamas, atua como mediador, no maior teste ao tratado de paz com Israel, estabelecido em 1979, no Cairo, desde a queda de Hosni Mubarak. Os negociadores egípcios podem estar próximos de alcançar um acordo entre Israel e os palestinos para parar com o confronto, disse o primeiro-ministro de Mursi, Hisham Kandil, que visitou Gaza na sexta-feira em uma demonstração de apoio aos palestinos. "Acho que estamos perto, mas a natureza desse tipo de negociação indica que é muito difícil de prever", Kandil disse em uma entrevista no Cairo para a Cúpula da Reuters para Investimentos no Oriente Médio. O Egito tem recebido líderes do Hamas e da Jihad Islâmica, uma facção armada menor. A mídia israelense disse que uma delegação de Israel também está no Cairo para conversações de paz. Um porta-voz do governo de Netanyahu não quis comentar o assunto. "Israel está preparado e tomou medidas, e está pronto para uma incursão terrestre que lidará com severidade com a máquina militar do Hamas", disse uma autoridade próxima a Netanyahu à Reuters. "Preferiríamos ver uma solução diplomática que garanta a paz à população de Israel no sul. Se isso for possível, então uma operação terrestre não seria mais necessária. Se a diplomacia fracassar, talvez não teremos alternativa a enviar forças terrestres", acrescentou ele. Preocupação mundial. A linguagem ecoou a do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que disse no domingo que seria "preferível" evitar uma ação dentro de Gaza, mas que Israel tem o direito de autodefesa e nenhum país toleraria mísseis caindo sobre seus cidadãos. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, também deverá chegar ao Cairo para os esforços de cessar-fogo. O chanceler egípcio deve visitar Gaza na terça-feira com uma delegação de ministros árabes. A presidente Dilma Rousseff conversou no domingo por telefone com o presidente egípcio, Mohammed Mursi, e com o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, sobre a crise no Oriente Médio. Segundo o Blog do Planalto, Dilma manifestou a Ban "a preocupação do Brasil com o uso desproporcional da força no conflito entre Israel e a Palestina, e disse que é importante que as Nações Unidas assumam plenamente as suas responsabilidades na questão. Em cenas que lembravam a invasão israelense a Gaza no inverno no hemisfério Norte de 2008/09, quando tanques, artilharia e infantaria se concentraram em acampamentos ao longo da fronteira - um trecho de areia rasgado por uma cerca de arame farpado -, enquanto comboios militares se deslocavam pelas estradas da região. Israel autorizou a convocação de até 75 mil militares reservistas, e até agora mobilizou cerca de metade deles. O objetivo declarado de Israel é esvaziar os arsenais de Gaza e obrigar o Hamas a interromper o lançamento de foguetes contra cidades israelenses na região da fronteira. Há anos tais cidades sofrem com os foguetes, mas eles agora estão com alcance maior, chegando a ameaçar Tel Aviv e Jerusalém. Em geral, no entanto, o poderio bélico de Israel continua sendo muito superior.

 

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