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Lula leva ao Irã diplomacia e aposta política arriscada

Sob o olhar atento dos Estados Unidos e das outras grandes potências, Lula aterrissará neste domingo no aeroporto de Teerã com a agenda voltada para o polêmico programa nuclear iraniano

Atualização:

Aposta. Presidente Lula ao lado de Dmitri Medvedev, governante da Rússia, em evento na sexta-feira, 14, dois dias antes de embarcar para o Irã. Foto: Ed Ferreira/AE

 

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TEERÃ - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa neste domingo, 16, uma visita crucial ao Irã, que para muitos carrega uma arriscada aposta política e diplomática na cena internacional.

 

Sob o olhar atento dos Estados Unidos e das outras grandes potências, Lula aterrissará de madrugada no aeroporto de Teerã com a agenda voltada, sobretudo, para um assunto: o polêmico programa nuclear iraniano.

 

Grande parte da comunidade internacional, com Washington, Londres e Berlim à frente, acusa o regime iraniano de ocultar, sob seu programa atômico civil, outro de natureza clandestina e aplicação bélica cujo objetivo seria a aquisição de arsenal nuclear, o que é negado por Teerã.

 

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A queda de braço se agravou nos últimos seis meses, depois que o Irã colocou empecilhos a uma oferta de troca de combustível nuclear para seu reator civil e começou a enriquecer urânio a 20% por conta própria.

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Desde então, os EUA, apoiados por, entre outros, França e Reino Unido, tentam pactuar uma nova série de sanções, que, segundo diplomatas, pode estar pronta em junho próximo.

 

O Irã trabalhou no próprio Conselho de Segurança para tentar integrar na resolução da polêmica os dez membros não-permanentes do principal órgão da ONU. A China, único país com direito a veto que abriga reservas, mantém uma posição até aqui ambivalente.

 

Já Turquia e Brasil, em princípio contrários a medidas punitivas, ganharam força como mediadores, um papel que despertou suspeitas, em particular em Washington. A embaixadora americana na ONU, Susan Rice, advertiu na quinta-feira, 13, que o processo de sanções prosseguirá mesmo com a visita de Lula.

 

Segundo ela, a esperança é de que a mensagem do presidente brasileiro seja de que a pressão aumentará caso Teerã não mude de atitude.

 

Em linha similar se expressou na sexta-feira, 14, o presidente russo, Dmitri Medvedev, para quem a viagem de Lula a Teerã pode ser a última oportunidade de evitar as sanções. "A viagem tem um alto risco. Se Lula conseguir um acordo, sua força política e a do Brasil crescerão, mas, caso contrário, ficará muito minado seu desejo de se projetar como alternativa", explicou na noite de ontem à Agência Efe um diplomata credenciado em Teerã.

 

 

Ceticismo americano

 

Apesar de louvar o esforço, uma fonte do departamento de Estado revelou esta semana que a Casa Branca está cética, mas segue aberta à eventual solução diplomática para o conflito. "O Brasil jogou forte na defesa do Irã. Lula chegou até aqui e não pode ir de mãos vazias", explica um analista político persa que prefere não ser identificado.

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Em novembro passado, durante a visita do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, a Brasília, Lula defendeu o direito do Irã de desenvolver energia nuclear, sempre que seja com fins civis. Seis meses depois, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reforçou a postura brasileira ao indicar que o Governo acredita que o Irã "está longe de fabricar uma bomba atômica".

 

O chanceler viajou no final de abril a Teerã para preparar a visita de Lula, que inclui a presença do presidente na cúpula do G15 - grupo de países em desenvolvimento do qual o Brasil faz parte - e no fórum comercial bilateral.

 

Em entrevista à imprensa na capital iraniana, Amorim ressaltou que o objetivo mais urgente do Brasil é desbloquear a proposta para a troca nuclear, considerado o primeiro dos vários entraves do assunto.

 

Em 23 de novembro, Rússia, EUA e Reino Unido propuseram ao Irã enviar ao exterior urânio a 3,5% e pegá-lo de volta, mais tarde, enriquecido a 20%. No entanto, Teerã travou o acordo, alegando não confiar na outra parte. Fora isso, exige como garantia que a troca aconteça de forma simultânea, em território iraniano e sob supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o que tem a oposição das potências.

 

Na visita à capital iraniana, Amorim sugeriu como alternativa que a troca seja em outro país, e apontou para o outro mediador, a Turquia, como solução. Para ele, Ancara aparece como saída por sua posição geográfica e pela boa relação com Teerã. No entanto, esta semana o Irã reiterou que sua opção é de que a polêmica troca aconteça dentro de suas fronteiras.

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