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Na Síria, 'pai dos mártires' fala em vingança

Por YARA BAYOUMY
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Depois de perder três filhos e dois netos, Abdelhalim Haj Omar, de 70 anos, não tem dúvida sobre o destino que deseja para o presidente sírio, Bashar al-Assad. "Espero que Bashar, que Deus queira, não morra até que eles massacrem toda a sua família na frente dele e que eles o tragam até aqui para que toda a Síria possa se vingar dele", disse Omar na cidade síria de Azaz, na fronteira com a Turquia. "Ele destruiu o país e matou seu povo", acrescentou, falando de sua oficina de carpintaria, onde montes de madeira estão empilhados perto de batentes terminados. Omar não está só em sua raiva. Cerca de 40.000 sírios morreram no conflito, que começou em março de 2011 como um levante majoritariamente pacífico e desde então se transformou em uma guerra civil brutal, contrapondo combatentes da maioria sunita às forças alauítas de Assad. Praticamente toda família perdeu pelo menos um membro, criando um poço fundo de raiva que dificultará ainda mais a reconciliação das comunidades em guerra da Síria quando o conflito chegar ao fim. Mas a família de Omar foi atingida de forma particularmente dura, o que lhe rendeu o título de "pai dos mártires". O primogênito de Omar, Ahmed, de 45 anos, foi morto por uma bala de um franco-atirador durante um protesto no início deste ano. Dois meses depois, seu segundo filho, Omar, de 25, foi morto a tiros pelas forças de segurança. "Eles quebraram a sua mandíbula, seu olho foi ejetado, eles o mataram e o deixaram no portão do cemitério", disse Omar, vestido com um suéter bege e um solidéu branco e cinza. CABEÇA ERGUIDA O filho seguinte, Mahmoud, era um combatente no Exército Livre Sírio e foi morto durante uma operação. Seu neto, Mohamed, foi assassinado por um soldado do PKK e o último neto, Abdhamid, outro combatente, morreu durante uma luta no aeroporto de Menagh, na zona rural de Aleppo, há cinco dias. A esposa de Omar, Um Ahmed, tomou três tiros na perna pelas forças de segurança do governo, que a acusaram de abrigar combatentes do Exército Livre Sírio. As autoridades estatais sírias referem-se aos insurgentes envolvidos no levante contra Assad como "terroristas". "Vocês permitiram que os terroristas entrassem, vocês os estão protegendo e os alimentando há quatro dias", teriam dito as forças de segurança para Um Ahmed, uma acusação que ela nega. O neto, Adbelhamid, que tinha 20 e poucos anos, estava casado havia apenas seis semanas quando morreu. Sua esposa de 17 anos, ainda usando o anel de ouro e diamante, estava sentada em uma sala isolada, chorando. "Ele era muito doce e tão gentil", ela disse, falando no quarto recém-decorado do casal, com mobília branca e carpete rosa. "Ele diria ‘não sairemos até que a vitória seja nossa'", ela disse, círculos negros debaixo dos olhos. Em um cemitério na extremidade de Azaz, Omar, vestido com um casaco negro e pesado para se proteger do frio cortante, inclinava-se sobre túmulos cavados em um campo vazio, e parava perto de cada membro morto da família para dizer algumas orações. Apesar de seu luto, Omar continuava desafiante. "Se eu tivesse cem filhos, eu os apresentaria para a revolução. Minha cabeça está erguida", disse Omar, com o rosto marcado pela emoção.

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