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'Ofensiva de charme' do Irã não atenua preocupações nucleares

Por FREDRIK DAHL
Atualização:

O esforço do Irã para se mostrar mais aberto a respeito do seu programa nuclear não está sendo suficiente para afastar os temores ocidentais de que o país estaria desenvolvendo armas nucleares. Um diplomata que trabalha na Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA, um órgão da ONU) disse que se trata de uma mera "ofensiva de charme." Colegas dele disseram que o próximo relatório trimestral da agência, a ser divulgados nos próximos dias, provavelmente voltará a ressaltar a preocupação com os possíveis aspectos militares da atividade iraniana. "Eu espero que ele (relatório) seja um pouco mais duro do que o último. Ainda há várias questões relacionadas a possíveis dimensões militares que o Irã se recusa a responder", disse um diplomata ocidental. "Não há nada particularmente virtuoso e maravilhoso em ser transparente e aberto a respeito de atividades que violam resoluções do Conselho de Segurança da ONU", criticou outro diplomata, europeu. "Para mim, isso ainda soa bastante como ... uma protelação." Governos ocidentais acusam o Irã de usar seu programa nuclear civil como fachada para desenvolver armas atômicas. A República Islâmica insiste que sua intenção é apenas gerar energia atômica para consumo elétrico e fins científicos. A AIEA, com sede em Viena, tem a tarefa de vigiar para que a tecnologia nuclear não seja desviada para fins bélicos. A agência frequentemente se queixa da falta de cooperação de Teerã em esclarecer as suspeitas. Em relatórios anteriores, a agência da ONU pediu ao Irã, em vão, que ofereça acesso imediato a todas as suas instalações nucleares, e também a equipamentos, documentos e técnicos relevantes para a investigação. No mês passado, o Irã autorizou um inspetor graduado da AIEA a visitar as principais instalações nucleares do país, inclusive a que desenvolve máquinas para o enriquecimento avançado de urânio (processo que, dependendo do grau de pureza do material obtido, pode resultar em combustível para reatores civis ou para armas nucleares). O Irã disse que essa autorização foi uma prova de que o país oferece "cem por cento de transparência e abertura." A AIEA vinha desde 2008 pleiteando acesso aos locais ligados à fabricação das centrífugas que fazem o enriquecimento de urânio. Teerã também tem demonstrado alguma flexibilidade na resposta às perguntas da AIEA, e um alto funcionário do setor nuclear disse à TV estatal do país que a agência deveria apresentar "suas principais alegações", junto com provas e documentos relevantes. Mas um dos diplomatas ocidentais sugeriu que o Irã estava apenas usando a velha tática de afastar qualquer pressão mais incisiva, sem abrir mão das suas atividades nucleares. "A recente ofensiva de charme dos iranianos não alterou a visão da agência sobre o que o Irã ainda precisa fazer", disse.

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