Ordem em Gaza era 'atirar primeiro', dizem soldados

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Por DOUGLAS HAMILTON
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Alguns dos soldados israelenses envolvidos na invasão da Faixa de Gaza em janeiro dizem que eles eram orientados pelos comandantes a atirar primeiro e preocupar-se depois em poupar civis. Por isso, afirmam, as forças entraram em Gaza com o dedo no gatilho. Em depoimentos incluídos num relatório de 112 páginas e em um vídeo divulgados nesta quarta-feira pelo grupo ativista Rompendo o Silêncio, 30 soldados dizem que o objetivo do Exército israelense era de minimizar suas baixas para garantir que a opinião pública do país apoiasse a operação. Os depoimentos reforçam as acusações da Anistia Internacional, Human Rights Watch e órgãos da ONU de que as forças de Israel infligiram morte e destruição em uma escala injustificável. Mas as declarações provocaram uma dura reação dos militares --que já haviam rejeitado as acusações de crimes de guerra feitas pelas entidades internacionais-- em um comunicado de três páginas que refuta as alegações como uma mistura difamatória e caluniosa de rumores e boatos. Nos depoimentos em vídeo e texto, quase todos sem indicação de nome e com as imagens borradas, soldados dizem que a ordem em Gaza era minimizar suas baixas para manter o apoio popular. "Melhor atingir um inocente do que hesitar em atingir um inimigo", é uma descrição típica de um dos soldados que não teve seu nome revelado sobre como entendeu as instruções repetidas antes da invasão e durante os 22 dias de guerra, entre 27 de dezembro e 18 de janeiro. "Se você não tiver certeza, mate. O poder de fogo era insano. Entrávamos e as explosões eram simplesmente malucas", afirma outro militar. "No momento em que chegávamos à nossa linha inicial, simplesmente começávamos a atirar em locais suspeitos." "Na guerra urbana, todos são seus inimigos. Não há inocentes." CALÚNIA E DIFAMAÇÃO O Exército de Israel disse em comunicado "lamentar o fato de que uma outra organização de defesa dos direitos humanos esteja apresentando a Israel e ao mundo um relatório baseado em testemunhos genéricos e anônimos", ao mesmo tempo que não teve a "mínima decência" de enviar com antecedência uma cópia para permitir que os militares investigassem as denúncias. "Isto foi feito como difamação e calúnia contra o IDF (sigla em inglês para Forças Israelenses de Defesa) e seus comandantes", diz o comunicado. O texto reconhece que houve "incidentes isolados nos quais foram causados danos não-intencionais a não-combatentes, como resultado de erros operacionais que são inevitáveis em um combate complexo". Durante a operação, o objetivo declarado de Israel era forçar o grupo islâmico Hamas e parar de disparar foguetes contra cidades no sul israelense. Um grupo palestino de defesa dos direitos humanos afirma que 1.417 pessoas foram mortas em 22 dias de invasão, entre elas 926 civis. O Exército israelense diz que o número de mortos foi de 1.166 e estima 295 mortes civis. Israel diz que dez de seus soldados e três civis do país também morreram. Ruas inteiras em partes da Faixa de Gaza foram destruídas para minimizar os riscos de baixas israelenses por meio de armas pequenas e armadilhas com bombas. A ONU afirma que, seis meses após o conflito, Gaza começa agora a retirar 600 mil toneladas de escombros.

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