Processo de paz sem o Hamas não é viável, diz ONU

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Por DAVID BRUNNSTROM
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Um processo de paz palestino que não inclua o Hamas não poderá ser viável, disse na quarta-feira a diretora da agência da ONU para refugiados palestinos. Karen AbuZayd, diretora da Agência de Auxílio e Obras da ONU, disse que é preciso mais empenho político para resolver a divisão entre as facções palestinas Fatah (laica, que controla a Cisjordânia) e Hamas (islâmica, dominante na Faixa de Gaza). Questionada em entrevista coletiva sobre a viabilidade de um processo de paz sem o Hamas, AbuZayd respondeu: "Não acho que seja nada viável e acho que é isso que os próprios palestinos estão dizendo, inclusive as autoridades palestinas em Ramallah (capital da Cisjordânia)." Na terça-feira, durante conferência com 44 países promovida pelos EUA em Annapolis, o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, e o presidente palestino, Mahmoud Abbas, prometeram se empenhar para selar a paz até o final de 2008, o que pressupõe a criação de um Estado palestino. Mas o Hamas rejeita o processo de paz e promete torpedeá-lo. Abu Zayd disse ter se reunido com o primeiro-ministro palestino e com a chanceler israelense antes de viajar a Bruxelas, onde inaugurou um escritório de ligação com a União Européia, principal doador da agência humanitária da ONU para os palestinos. "Ambos foram claros que Gaza é o elo perdido", afirmou ela, que se disse "pessoalmente a favor" de um novo governo de unidade entre Hamas e Fatah --o anterior foi dissolvido em junho, depois que o Hamas expulsou as forças de Abbas da Faixa de Gaza. "Não espero que isso aconteça imediatamente, mas pelo menos os arranjos começarão a ser feitos", acrescentou. Passada a conferência de Annapolis, haverá uma reunião de doadores em Paris. "Teremos de pensar em como atrair Gaza para o processo inteiro", afirmou ela. "Não será fácil, como vimos pelos recentes fatos em Gaza e na Cisjordânia, mas acho que todos percebem que, se estamos falando de uma solução com dois Estados, precisamos de alguma forma ter pelo menos toda a entidade palestina junta." Segundo ela, antes do rompimento da Fatah com o Hamas, 40 por cento do comércio da Cisjordânia era com Gaza. "Isso não está mais acontecendo, então todos estão sofrendo com o isolamento de Gaza." Tal isolamento, acrescentou, favorece o extremismo em Gaza, enquanto no começo do ano, sob outro cenário, vozes moderadas começavam a surgir no Hamas. "O melhor seria conversar com eles", disse.

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