Protesto anti-Hamas do Fatah termina em violência em Gaza

Após orações, palestinos que atiravam pedras e rotulavam Hamas de xiita foram violentamente dispersos

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Por Agências internacionais
Atualização:

Um protesto contra o Hamas realizado por militantes da facção Fatah terminou violentamente nesta sexta-feira, quando agentes do grupo islâmico dispersaram os manifestantes à força. Mais de 20 pessoas ficaram feridas, inclusive dois jornalistas franceses e duas crianças, disseram médicos e testemunhas. Ao término das orações desta sexta, simpatizantes do Fatah atiraram pedras e bombas incendiárias na direção de prédios do Hamas. Alguns chamaram integrantes do Hamas de "xiitas", em referência ao apoio do Irã ao grupo. Os palestinos são majoritariamente sunitas e chamá-los de xiitas é considerado um insulto. Os agentes do Hamas então efetuaram disparos para o alto para dispersar a multidão. A seguir, eles começaram a prender manifestantes, em alguns casos perseguindo-os e espancando-os. Uma equipe da Associated Press enviada ao local testemunhou dois jornalistas sendo espancados por simpatizantes do Hamas, mas eles não ficaram gravemente feridos. Entre os feridos está um fotógrafo freelance francês, que foi atingido por fragmentos de uma granada lançada por membros do Fatah contra milicianos do Hamas. Segundo fontes médicas, o francês, cuja identidade não foi revelada, foi atendido em um centro médico local. As manifestações ocorrem depois que o Fatah - liderado pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas - pediu a seus simpatizantes em Gaza que não participassem da reza de sexta-feira nas mesquitas controladas pelo Hamas. Milhares de partidários do Fatah atenderam ao pedido e assistiram às preces ao ar livre, depois das quais ocorreram os choques. Outros conflitos Na sexta-feira passada, um protesto similar terminou em confrontos e assédio a jornalistas. O movimento Fatah, rival político do Hamas nos territórios palestinos, convocou manifestações semanais em Gaza, sempre às sextas-feiras, para protestar contra o que qualifica de perseguição nas mesquitas do território. Numa manifestação similar em Rafah, no extremo sul de Gaza, agentes do Hamas atiraram para o alto. Bombas de efeito moral atingiram um grupo. Duas crianças ficaram feridas. Por meio de um comunicado, o gabinete do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, qualificou a repressão aos protestos como "uma tentativa de impor uma ditadura cega e uma cultura extremista que contradiz" os valores e a herança dos palestinos. Saber Khalifa, porta-voz dos serviços de segurança do Hamas, disse que "subversivos" foram presos, mas não revelou quantos. Um integrante do Fatah em Gaza disse que 25 pessoas foram detidas. 'Heróis' Após os choques, Abbas emitiu em Ramallah, onde está o quartel-general da ANP, um comunicado no qual qualificou os manifestantes de "heróis". "A repressão dos manifestantes pretende impor uma ditadura e uma cultura do extremismo que se contradizem com os valores e a herança de nosso povo", afirma o texto. "Os eventos de Gaza demonstram que o golpe está perto de seu fim", acrescenta o comunicado, em alusão à tomada do poder em Gaza pelo Hamas, que a ANP considera um golpe de Estado. "Nosso heróico povo não será aterrorizado por esses mercenários", afirmou Abbas, no que representa um claro desafio popular da ANP contra o controle político que o Hamas exerce em Gaza. Os confrontos coincidem com a retomada, após sete anos de bloqueio, das negociações diretas entre a ANP e Israel, com o propósito de preparar a conferência de paz entre as duas partes que os Estados Unidos convocaram para ainda este ano. A iniciativa, cujo objetivo é estabelecer as bases de um Estado palestino em Gaza e na Cisjordânia, conta com a rejeição do Hamas, que mantém nas linhas mestras de seu programa plítico o não-reconhecimento do Estado de Israel, a rejeição ao processo negociador iniciado em Oslo, em 1993, e o recurso à violência como instrumento político.

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