Rafsanjani ignora decisão de linha-dura sobre voto no Irã

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Por PARISA HAFEZI
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O influente ex-presidente iraniano Akbar Hashemi Rafsanjani ignorou no domingo um pedido de um grupo de clérigos linha-dura para apoiar o resultado da eleição presidencial no país, que está sendo contestado, disse uma agência de notícias. Na sexta-feira, 50 membros da assembléia de peritos, que tem 86 membros, pediu a Rafsanjani num comunicado que apoiasse o aiatolá Ali Khamenei, que endossou a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad pouco depois da eleição de 12 de junho. Políticos de centro dizem que houve fraude na eleição. Num desafio à figura mais poderosa do Irã, Rafsanjani declarou que a república islâmica está em crise durante sermão feito em 17 de julho e pediu um fim às prisões de políticos moderados. "Meu ponto de vista (sobre a eleição) é o mesmo que mencionei no sermão de sexta-feira", disse Rafsanjani, segundo a agência semi-oficial ILNA. As palavras do clérigo indicam que os reformistas não vão ceder apesar da pressão. Ele é o chefe da assembléia de peritos, que, em tese, tem o poder de derrubar o líder supremo. A eleição levou o país islâmico à sua maior crise interna desde a revolução islâmica de 1979 e expôs o aprofundamento das diferenças entre os membros da elite que controla o poder. Organizações de defesa dos direitos humanos dizem que centenas de pessoas, inclusive importantes políticos reformistas, jornalistas, advogados e ativistas foram presos pelas autoridades desde a eleição. Rafsanjani confirmou que há divisões dentro do clero em relação ao resultado da eleição. "As disputas se relacionam à eleição ... se as diferenças (sobre a eleição) fossem resolvidas, a disputa também acabaria", disse Rafsanjani. DISPUTA DE PODER Rafsanjani, um dos arquitetos da revolução islâmica, advertiu que a disputa de poder gerada pela eleição pode minar o sistema. "O líder e eu somos amigos há 50 anos. Passamos juntos por várias etapas da revolução", disse Rafsanjani, numa clara resposta aos membros da assembléia que pediram-lhe que demonstrasse lealdade a Khamenei e apoiasse o resultado. "O líder, baseado em sua experiência, é minha esperança de solução para a disputa." O ex-presidente reformista Mohammad Khatami e os candidatos derrotados Mehdi Karoubi e Mirhoussein Mousavi acusaram o novo governo de Ahmadinejad de "ilegítimo". Khatami pediu a realização de um referendo sobre a legitimidade do governo. Importantes reformistas pediram a libertação das pessoas presas depois de manifestações contra o resultado das eleições. A mídia oficial iraniana disse que pelo menos 20 pessoas morreram nos confrontos que se seguiram às eleições. Mousavi e Karoubi pediram ao ministro do interior que permita uma manifestação na quinta-feira para relembrar os reformistas mortos desde a eleição.

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