Rússia alerta contra ação militar no Irã

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Por THOMAS GROVE E GLEB BRYANSKI
Atualização:

A Rússia e o Irã alertaram na segunda-feira o Ocidente a não empreender uma ação militar contra a República Islâmica, dizendo que um ataque contra o programa nuclear iraniano resultaria em vítimas civis e criaria novas ameaças à segurança global. As declarações feitas separadamente pelos chanceleres Sergei Lavrov e Ali Akbar Salehi coincidem com especulações sobre um possível ataque israelense a instalações nucleares iranianas, às vésperas da divulgação de um novo relatório da ONU a respeito de possíveis aspectos militares do programa atômico do país. Questionado numa entrevista coletiva em Moscou, Lavrov disse que um ataque israelense "seria um erro seríssimo, repleto de imprevisíveis consequências". Em São Petersburgo, Salehi disse que o Irã "condena qualquer ameaça de ataque militar contra Estados independentes". Salehi foi à Rússia para uma reunião da Organização da Cooperação de Xangai, grupo regional dominado por Moscou e Pequim, e onde Teerã tem status de observador. Também a Alemanha se manifestou contra a hipótese de uma ação militar contra o Irã. Para o ministro alemão de Relações Exteriores, Guido Westerwelle, isso poderia dar mais força política à República Islâmica, ao invés de debilitá-la. "Alerto contra aventar a ideia de opções militares", disse Westerwelle ao jornal Hamburger Abendblatt. "Esses são debates (...) que fortalecem a liderança iraniana, ao invés de enfraquecê-la." A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, um órgão da ONU) deve divulgar nesta semana um relatório que possivelmente acusará Teerã de tentar desenvolver a tecnologia necessária para a produção de armas nucleares. A Rússia e a China já aceitaram, de forma relutante, quatro rodadas de sanções da ONU contra o programa nuclear iraniano, mas deixam claro que dificilmente admitiriam novas medidas. Moscou propõe uma abordagem gradual para a suspensão das sanções, em troca de o Irã esclarecer as preocupações sobre seu programa atômico, que o país diz ser exclusivamente pacífico. "Não há solução militar para o problema nuclear iraniano, como não há solução militar para nenhum outro problema no mundo moderno", disse Lavrov. "Isso se confirma para nós a cada dia, quando vemos como os problemas dos conflitos em torno do Irã estão sendo resolvidos - seja no Iraque ou no Afeganistão, ou o que está acontecendo em outros países da região. A intervenção militar só leva a muitas vezes mais mortes e sofrimento humano." Refletindo as preocupações na região, uma fonte do governo do Kuweit disse que esse país árabe não permitirá que seu território seja usado para o lançamento de ataques contra qualquer nação dos arredores. Em 2003, o Kuweit serviu de base para a invasão norte-americana no Iraque. Horas depois das declarações de Lavrov, Salehi disse que "a experiência pregressa mostra que ações militares propositais e unilaterais por parte de certos países têm levado a instabilidade, ao assassinato de inocentes e ao surgimento de novas ameaças ao mundo." A imprensa israelense tem especulado que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu estaria buscando um consenso dentro do seu gabinete para atacar instalações nucleares do Irã.

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