Sarkozy diz a Obama que Netanyahu é um 'mentiroso'

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Por YANN LE GUERNIGOU
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O presidente francês, Nicolas Sarkozy, chamou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de "mentiroso" em uma conversa particular com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que foi acidentalmente transmitida a jornalistas durante a cúpula da semana passada do G20 em Cannes. "Eu não suporto o Netanyahu, ele é um mentiroso", disse Sarkozy a Obama, sem saber que os microfones em sua sala de reunião haviam sido ligados, permitindo a repórteres em um local separado escutar por meio de tradução simultânea. "Você está de saco cheio dele, mas eu tenho que lidar com ele com mais freqüência do que você", respondeu Obama, de acordo com um intérprete francês. A gafe técnica pode causar grande embaraço para os três líderes à medida que eles procuram trabalhar em conjunto para intensificar a pressão internacional sobre o Irã por causa de suas ambições nucleares. A conversa não foi inicialmente divulgada pelo pequeno grupo de jornalistas que a ouviu porque ela foi considerada privada e confidencial. Mas os comentários surgiram depois em sites franceses e podem ser confirmados pela Reuters. O aparente fracasso de Obama em defender Netanyahu deve ser aproveitado pelos adversários republicanos, que estão de olho em derrotá-lo na eleição presidencial do próximo ano e já o retrataram como sendo hostil a Israel, o principal aliado de Washington na região. O gabinete de Netanyahu não comentou o assunto. Obama e Netanyahu têm tido um relacionamento complicado desde que os esforços dos EUA para mediar um acordo de paz no Médio Oriente naufragaram. O presidente norte-americano critica abertamente a construção de assentamentos judaicos nos territórios palestinos ocupados. Não ficou claro por que exatamente Sarkozy criticou Netanyahu. No entanto, diplomatas europeus vêm amplamente culpando Israel pelo colapso das negociações de paz e demonstraram irritação com a aprovação de Netanyahu à construção de assentamentos em grande escala. PREOCUPAÇÕES PALESTINAS Durante o encontro bilateral deles em 3 de novembro, nos bastidores da cúpula de Cannes Obama criticou a surpreendente decisão de Sarkozy de votar a favor do pedido palestino de adesão à agência da ONU que trata de patrimônios culturais, a Unesco. "Eu não gostei da sua maneira de apresentar as coisas sobre a filiação dos palestinos à Unesco. Isso nos enfraqueceu. Você deveria ter nos consultado, mas agora isso ficou para trás", teria dito Obama. A votação de 31 de outubro sobre a adesão à Unesco representou um sucesso para os palestinos em sua meta mais ampla de serem reconhecidos como estado soberano no sistema da ONU, uma iniciativa unilateral duramente rejeitada por Israel e pelos Estados Unidos. Como resultado da votação, os EUA foram obrigados a suspender seu financiamento para a Unesco, para cumprirem uma lei dos anos 1990 que proíbe o governo de dar dinheiro a qualquer órgão da ONU que conceda adesão a grupos que não sejam reconhecidos como estado pleno, legalizado. Obama disse a Sarkozy que estava preocupado com o impacto se os EUA tivessem de cortar o financiamento de outros órgãos das Nações Unidas, como a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação e a agência nuclear, a AIEA, se os palestinos também ganhassem adesão lá. No dia da conversa entre os dois líderes, os palestinos anunciaram que não entrariam com pedido de filiação a outras agências da ONU. Sarkozy confirmou que a França não tomaria nenhuma decisão unilateral quando o Conselho de Segurança discutir o pedido de adesão dos palestinos, um debate esperado para o final deste mês.

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