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Sentimento anti-EUA aproxima América Latina do Irã

Por BRIAN ELLSWORTH
Atualização:

O Irã está ganhando influência na América Latina, região que tem se afastado de Washington, enquanto o presidente Mahmoud Ahmadinejad corteja novos aliados para combater os esforços norte-americanos de isolar seu governo. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e outros líderes esquerdistas, muitos deles simpáticos à retórica anti-EUA de Chávez, fecharam acordos comerciais de energia e de investimento com o Irã. A aproximação acontece ao mesmo tempo em que aumentam as pressões das potências contra o Irã por causa de seu programa nuclear. "Como não há uma política coerente dos Estados Unidos em relação à América Latina, há uma oportunidade para os iranianos preencherem o vácuo", disse Riordan Roett, do Programa de Estudos Latino Americanos da Universidade Johns Hopkins. A Venezuela e o Irã assinaram vários acordos, que vão desde a construção de fábricas de automóveis e tratores até o acesso iraniano aos campos de petróleo venezuelanos. A Venezuela também está fornecendo gasolina ao Irã, que enfrenta um racionamento. "Os dois países vão derrotar juntos o imperialismo da América do Norte", disse Chávez, sorridente, durante uma viagem oficial ao Irã no mês passado. Mas não é só a Venezuela. O presidente Ahmadinejad visitou outros países na região. O Equador, que já preocupou Wall Street com ameaças de moratória, assinou no mês passado com o Irã um acordo para aumentar o comércio bilateral e os investimentos mútuos. O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, que liderou um governo marxista durante a guerra civil contra rebeldes apoiados pelos EUA nos anos 1980 e que voltou ao poder este ano, obteve o investimento iraniano de 350 milhões de dólares num porto e de 120 milhões de dólares numa usina hidrelétrica. Cuba, que assim como o Irã sofre o embargo norte-americano, trouxe investimentos iranianos em infra-estrutura e negociou contratos para fornecer tecnologia médica para o Irã. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo visto como mais moderado, já incentivou o comércio com o Irã e as explorações petrolíferas da Petrobras no país. Mas Lula tem evitado afiliações políticas abertas e seu governo proibiu a venda e a transferência de equipamento e tecnologia nuclear para o Irã. A Argentina vem evitando qualquer reaproximação. No ano passado, pediu uma ordem de prisão internacional para o ex-presidente iraniano Akbar Hashemi Rafsanjani, acusando-o de envolvimento num ataque a bomba contra um centro judaico no centro de Buenos Aires que matou 85 pessoas em 1994. Analistas dizem que alguns países latino-americanos estão buscando novas alianças porque os EUA vêm ignorando a região nos últimos anos, por estar concentrando-se na chamada guerra contra o terror. A China também estendeu sua influência econômica sobre boa parte da América Latina, e o Irã usa as alianças para ajudar a evitar seu isolamento internacional. "O Irã está tentando criar um equilíbrio geopolítico com os Estados Unidos", disse Bill Samii, especialista em Irã do Centro de Análises Navais, na Virgínia. "Com as tropas dos EUA operando no golfo Pérsico, estão tentando dizer: Também podemos operar no seu quintal."

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