Milícias xiitas rivais entraram em choque perto de dois de seus templos mais sagrados nesta terça-feira, 28, em Kerbala, durante um grande festival religioso. Ao menos 50 pessoas morreram e a celebração teve de ser abortada para que cerca de 1 milhão de peregrinos fossem retirados da cidade. Veja TambémBush diz que guerra é crucial para segurança Irã quer preencher vácuo de poder no Iraque Fluxo de imigrantes iraquianos vai aumentar Brown descarta retirada de tropas Autoridades de segurança impuseram toque de recolher e afirmam que ao menos 247 pessoas ficaram feridas, incluindo mulheres e crianças. O clérigo iraquiano xiita Moqtada al-Sadr pediu calma após os ataques que coincidiram com o festival. "Moqtada al-Sadr pede calma e pede aos seguidores que não participem", afirmou seu assessor. O brigadeiro-general Abdul Kareem Khalaf, porta-voz do Ministério do Interior, disse à TV estatal que reforços estavam sendo enviados às pressas de Bagdá e das províncias vizinhas para Kerbala. Muitos dos peregrinos também tinham ido a pé até Kerbala desde Bagdá ou de outros lugares para marcar o aniversário do nascimento de Mohammad al-Mahdi, o último dos 12 imãs que os xiitas consideram santos, e que viveu no século nove. As forças iraquianas temiam, inicialmente, que a Al-Qaeda sunita tentasse realizar um ataque de grandes proporções contra os peregrinos para inflamar as tensões sectárias. A violência ocorre em uma área próxima dos dois maiores santuários xiitas da cidade. A ordem para que os peregrinos fossem embora veio à tona horas antes do ápice das celebrações, previsto para ocorrer entre a noite desta terça e a manhã de quarta-feira. Em conversas por telefone com jornalistas em Kerbala era possível ouvir tiros e explosões ao fundo. Khalaf disse que "todas as entradas e saídas de Kerbala estão guardadas e mais forças de segurança estão a caminho, procedentes de outras províncias". Outros funcionários disseram que o governo iraquiano está enviando ônibus a Kerbala para retirar peregrinos da cidade. Rivalidade De acordo com fontes nos serviços de segurança, militantes do Exército Mahdi, leis a al-Sadr, entraram em choque com milicianos da Brigada Badr nas proximidades dos dois principais santuários xiitas da cidade. O sul iraquiano é palco de uma disputa de poder entre o Exército Mahdi e a Brigada Badr, braço armado do rival Conselho Supremo para a Revolução Islâmica no Iraque (CSRII). Hazem al-Araji, assessor de Sadr, disse que os confrontos começaram quando a polícia impediu que os peregrinos entoassem gritos de guerra pró-Sadr. Em Kerbala, uma testemunha viu homens armados de metralhadoras, lançadores de granadas propelidas por foguete, paus e espadas circulando pelas ruas e batendo nos peregrinos, inclusive em mulheres. Os sadristas e o Siic, os dois maiores blocos xiitas no Parlamento, travam uma disputa de poder pelo controle das cidades no sul do Iraque, predominantemente xiita. Em muitas dessas cidades, a polícia é leal às Organizações Badr. Especialistas temem que a violência só vá piorar com a aproximação das eleições provinciais, que devem acontecer no ano que vem. Mais tarde, um funcionário do Ministério de Interior acusou o Exército Mahdi, milícia financiada pelo clérigo xiita Muqtada al-Sadr, de ter atacado forças do governo no centro de Kerbala. À noite, disseram as fontes ouvidas pela AP, as forças de al-Sadr entraram em choque com milicianos da Brigada Badr. Independência Os confrontos colocam o premiê Nuri al-Maliki em situação desconfortável, já que ele quer mostrar que suas forças já podem controlar a segurança do país sem a ajuda dos EUA. Um dos dois vice-premês, Barham Salih, advertiu na segunda-feira que a retirada precipitada das forças dos EUA pode causar um desastre. "Vai levar a uma guerra civil generalizada." Caças norte-americanos sobrevoaram Kerbala numa "demonstração de força", a pedido das autoridades iraquianas, mas por enquanto essa tinha sido a única participação dos EUA na operação, disse a major Alayne Conway, porta-voz das forças americanas ao sul de Bagdá. Na noite de segunda-feira, confrontos entre a polícia e peregrinos na cidade já tinham matado sete pessoas e ferido 35, segundo os hospitais locais.