No reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, Donald Trump tomou o cuidado de não adotar a posição oficial do governo israelense. Num gesto destinado a atender a anseios de governantes do mundo árabe, para quem Jerusalém é questão sensível, as palavras escolhidas abrem margem para parte da cidade se tornar um dia capital de um eventual Estado palestino.
+ Mudar embaixada foi decisão política, não diplomática
“Os limites específicos da soberania israelense em Jerusalém estão sujeitos ao status final nas negociações entre as partes”, diz a proclamação da Casa Branca. “Os EUA não estão tomando posição a respeito de limites ou fronteiras.” Embora não haja referência à demanda palestina pela parte oriental, o fraseado aproxima a posição americana da adotada por países como Rússia ou República Checa, que reconhecem “Jerusalém Ocidental” como capital israelense e “Jerusalém Oriental” como capital palestina.
O sentido dessas expressões é incerto. A principal referência para determinar o que fica de cada lado da cidade são as fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, em 1967. Do lado ocidental, ficam as sedes do governo, que tornam Jerusalém a capital israelense para fins práticos. Do oriental, locais sagrados para muçulmanos, cristãos e judeus, dentro da Cidade Velha, cuja soberania os israelenses não admitem negociar. Para Israel, não custa lembrar, “Jerusalém Ocidental” não existe. Só existe uma Jerusalém, sua capital “eterna e indivisível”.
Em documentos, Jerusalém não é Israel
Nos passaportes emitidos pelos EUA, o local de nascimento continuará, até ordem em contrário, a ser apontado como Jerusalém para os nascidos lá - e não Israel, como para nascidos noutras cidades israelenses.
A nova intifada e ‘House of Cards’
De um observador experimentado do conflito no Oriente Médio: “Intifada é que nem House of Cards. A primeira temporada é melhor que a segunda. A segunda, melhor que a terceira. E etc.” Apesar da ira nas declarações do Hamas, a nova revolta não deverá ter o mesmo impacto das anteriores. O poder de fogo do grupo foi reduzido por força das ações de Israel nos últimos 30 anos. A rebelião não interessa a potências regionais como Egito e Arábia Saudita. As lideranças locais nos territórios ocupados, controladas por ONGs ou pela Autoridade Palestina (AP), também não querem saber de violência. O próprio Hamas fez recentemente um acordo com a AP, pelo qual, em nome da unidade palestina, cede o controle de Gaza e prevê entregar as armas.
A arte de Bin Salman na Palestina
Em 6 de novembro, dois dias depois de mandar prender 11 primos no expurgo da família real saudita, o jovem príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, de 32 anos, e o genro de Trump, Jared Kushner, de 36 anos, apresentaram ao líder palestino Mahmoud Abbas uma proposta de paz que foi escorraçada. Ela estabelecia a capital da Palestina em Abu Dis, subúrbio de Jerusalém, na Cisjordânia.
A arte de Da Vinci em Abu Dhabi
O Wall Street Journal chegou a noticiar que, em 15 de novembro, Bin Salman comprou o Salvator Mundi, atribuído a Leonardo da Vinci, por US$ 450,3 milhões, maior valor já pago por uma obra de arte. A leiloeira Christie’s informou que o quadro “foi adquirido” pelo Louvre de Abu Dhabi. Graças à transação, depois de levar um tombo em 2016, o mercado de leilões voltará ao tamanho de 2010.
Cansado de “fake news”? Vem aí o “fake video”
Quem anda preocupado com notícias falsas na campanha eleitoral deve se preparar para o próximo passo no mundo da desinformação: vídeos falsos. Em breve será possível falsificar imagens e até vozes, como a de Trump no vídeo que foi vazado antes da eleição, em que ele se gabava de proezas sexuais. “É o tipo de conteúdo que a tecnologia será capaz de fabricar de modo convincente no curto prazo”, escreve a pesquisadora Evelyn Douek, da Escola de Direito de Harvard.