Em meio à campanha eleitoral americana de 2016, uma foto de Melvin Redick, de Harrisburg, Pensilvânia, vestindo um boné de beisebol e segurando sua filha, surgiu no Facebook com um link para um novo site. “Esses caras mostram a verdade sobre Hillary Clinton, George Soros e outros líderes americanos”, escreveu ele no dia 8 de junho daquele ano. “Visitem o site #DCLeaks. É realmente interessante!”
A publicação estava entre os primeiros sinais de uma intervenção estrangeira sem precedentes na democracia americana. O site funcionou durante alguns dias e publicava amostras de materiais, supostamente roubadas de cidadãos americanos por hackers russos, o que poderia interferir na campanha presidencial.
Grande parte das mensagens divulgadas eram contra a democrata Hillary Clinton, então concorrente do presidente americano, Donald Trump. Várias delas falavam sobre os e-mails da ex-secretária de Estado que haviam sido obtidos e vazados por hackers russos, além de visões políticas compartilhadas pelo Kremlin.
Os supostos donos do site faziam parte de uma espécie de “ciberexército” de contas falsas de Facebook e Twitter, um grupo de impostores liderados por russos cujas operações ainda estão sendo investigadas.
+ Cronologia: Ataques de hackers ao Partido Democrata e acusações à Rússia
Apesar disso, nenhum Melvin Redick foi encontrado na base de dados da Pensilvânia. Quando os repórteres do New York Times questionaram o Facebook sobre o usuário e outras contas suspeitas de pertencerem a impostores, a empresa realizou seus procedimentos padrões e pediu aos donos dos perfis que usassem a boa-fé. Todas as contas suspeitas acabaram sendo removidas da rede social.
Os jornalistas suspeitavam que Redick era brasileiro, pois uma das fotos publicadas mostrava ele sentado em um bar localizado no Brasil. Em outra, aparecia um quarto com o padrão de tomada do país.
Toda a história foi publicada no New York Times em 7 de setembro. No dia seguinte, o site brasileiro G1 publicou uma matéria na qual pediam a ajuda dos leitores para tentar identificar o personagem em questão. Segundo o jornal americano, um dos internautas viu as fotos e reconheceu seu genro, Charles David Costacurta, de 36 anos, oriundo de Jundiaí, São Paulo.
Ele disse ao G1 que as fotos foram tiradas em 2014 e relatou que ficou muito confuso com a situação, já que ajustou as configurações de privacidade do Facebook para limitar o acesso ao seu perfil. / NYT