Em uma das mais aguardadas decisões da Suprema Corte este ano, envolvendo a questão de saber se um confeiteiro cristão seria obrigado a confeccionar um bolo para um casamento gay, os juízes optaram por não decidir uma questão subjacente: definir se alguém como o tal confeiteiro pode tomar uma atitude discriminatória contra certos clientes.
Essa questão é vital e faz parte de uma campanha incrivelmente ambiciosa empreendida pela direita religiosa e pelo Partido Republicano para transformar os cristãos conservadores em uma classe com direitos especiais. Eles ainda não venceram, mas podem estar a caminho.
Este caso, chamado “Loja de Bolos Masterpiece versus Comissão de Direitos Civis do Colorado”, envolveu uma lei do Estado do Colorado que proíbe a discriminação contra gays e um confeiteiro cristão que rejeitou fazer um bolo de casamento para um casal gay.
A alegação do confeiteiro era que a lei deveria render-se à interpretação de sua religião. Embora o Novo Testamento seja notoriamente omisso quanto à produção de bolos de casamento, ele acha que suas crenças estariam comprometidas se ele tivesse de realizar um serviço para o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
O resultado que o confeiteiro, organizações de direitos religiosos, o governo Trump e praticamente todo o Partido Republicano queria era um no qual a Suprema Corte declarasse que as pessoas religiosas – particularmente os cristãos – podem escolher quais leis obedecer, desde que possam citar uma base religiosa para sua objeção. Não foi o que o tribunal lhes concedeu.
O contexto crítico neste caso é que a direita religiosa busca esse tipo de status especial para si precisamente porque suas visões estão em declínio. O sentimento antigay está se tornando cada vez menos aceitável. A ideologia patriarcal, no coração do cristianismo conservador, é cada vez mais rejeitada pela sociedade.
A proporção de descrentes nos EUA cresce rapidamente. É por isso que eles estão tão entusiasmados com Trump, chegando a alegar que Deus engendrou sua vitória. Pois não importa que Trump não seja religioso. Ele não faz apelos aos princípios cristãos fundamentais. Ele simplesmente diz à direita religiosa que vai lutar por ela, contra todos os outros.
A verdadeira razão pela qual o caso terminou sem resolver os problemas subjacentes foi que Anthony Kennedy, que escreveu a opinião da maioria, não está disposto a restringir os direitos dos gays para aumentar os privilégios dos cristãos conservadores. Mas eles têm quatro juízes que estão. Tudo o que eles precisam é de mais um. / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO