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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|A guerra de Putin fará da Ucrânia um Estado falido

Estou sofrendo, e me sinto pessoalmente ofendido por aqueles que confundem agressor e agredido, verdade e mentira, concluindo que tudo não passa de uma 'guerra de narrativas'

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Atualização:

No dia 16 de janeiro, iniciei minha coluna afirmando que “a pergunta sobre a intervenção russa na Ucrânia se deslocou da categoria do ‘se’ para do ‘quando’ e ‘como’”.

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Agora, está igualmente evidente que o objetivo de Vladimir Putin é instalar em Kiev um governo que o obedeça. No prazo médio, ele fracassará e focará no plano B: converter a Ucrânia num Estado falido.

Os militares ucranianos estão impondo uma resistência inesperada para os russos, mas não para quem observou nos últimos meses o ânimo deles de defender a liberdade e a dignidade de quem eles amam. Quando enfrentam a morte contra um inimigo muito mais forte, as pessoas levam no coração o amor pelos seus. Só é possível fazer esse sacrifício por esse amor.

'Não vamos infligir danos ao sistema da economia mundial em que nós mesmos estamos', disse o presidente Vladimir Putin. Foto: Mikhail Klimentyev, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP

A Rússia faz uma guerra de escolha de um homem, Vladimir Putin, que precisa concretizar suas fantasias sadomasoquistas de masculinidade, arrastando consigo o seu país e os seus vizinhos. “Goste ou não, é seu dever, minha beleza”, disse Putin num recado ao presidente ucraniano, Volodmir Zelenski. A citação é de uma música que glorifica o estupro e a necrofilia.

Os ucranianos não têm escolha a não ser derramar o próprio sangue enquanto tentam impor o maior custo possível ao invasor. No fim, a Rússia prevalecerá, e a resistência servirá de incentivo para um castigo ainda mais perverso contra os ucranianos.

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Putin foi claro: “Apelo aos militares da Ucrânia: não permitam que neonazistas ucranianos usem seus filhos, esposas e idosos como escudos humanos. Tomem o poder em suas próprias mãos. Será mais fácil para nós chegarmos a um acordo”. Volodmir Zelenski é judeu.

Putin encontrará uma junta militar para chamar de sua. Não conseguirá estabilizar a Ucrânia. Mas impedirá o surgimento de uma democracia liberal próspera com a mesma matriz histórica, cultural e geográfica da Rússia, a servir de inspiração para um levante dos russos contra o seu jugo e contra a extorsão da cleptocracia que o rodeia.

Nada do que digo é resultado de algum tipo de “faro” e muito menos do meu desejo, mas do aprendizado de 22 anos de Putin no poder, combinado com a análise de informações no terreno, de imagens de satélite vendidas por empresas privadas e vídeos feitos por testemunhas, confirmados por técnicas de geolocalização. 

Estou sofrendo, e me sinto pessoalmente ofendido por aqueles que confundem agressor e agredido, verdade e mentira, concluindo que tudo não passa de uma “guerra de narrativas”. 

Carrego comigo a dor de ter presenciado incontáveis vezes pessoas morrendo como estão morrendo agora ucranianos e russos pela vaidade de um homem. Diante disso, a indiferença é uma forma de agressão.

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Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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