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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|A reação ao populismo autoritário

Há uma resposta visível à onda autoritária, o que não indica facilidade para a democracia

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Atualização:

Na coluna do domingo passado, escrevi que a eleição de Gabriel Boric para a presidência no Chile, mais do que uma vitória da esquerda, ajuda a contar outra faceta da história deste ano: uma resposta em várias partes do mundo aos avanços do autoritarismo. Isso se aplica aos países nos quais a democracia tem raízes, por baixo da erva daninha do populismo autoritário que se espalhou nos últimos anos pelo mundo livre.

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Nos Estados Unidos, Donald Trump perdeu dezenas de ações na Justiça que tentavam reverter sua derrota para Joe Biden nas urnas. Seguidores do então presidente invadiram o Congresso no dia 6 de janeiro para tentar impedir a certificação da vitória de Biden. Mas o controle do Capitólio foi recuperado, a sessão, retomada, e Biden, empossado duas semanas depois. Trump e outros incendiários foram excluídos das redes sociais.

Assim como aconteceu agora em dezembro no Chile, também no Peru a eleição de Pedro Castillo, de esquerda, não veio acompanhada de maioria no Parlamento. Dos 130 deputados, apenas 37 são do partido dele, chamado Peru Livre. 

Primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, rejeita os termos impostos pela UE Foto: John Thys/AFP

Sua eleição se explica não pelo desejo dos peruanos de uma guinada à esquerda, mas pela rejeição à corrupção dos políticos tradicionais, acusados de receber propinas da Odebrecht, e à candidatura de Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori.

A Alternativa para a Alemanha, única força antidemocrática que disputa as eleições alemãs, encolheu na votação de setembro. O partido elegeu 83 deputados – 11 a menos do que em 2017 –, com suas posições negacionistas em relação à mudança climática e à ameaça da covid-19. 

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A coalizão formada em novembro é uma celebração da democracia na sua manifestação mais concreta: a negociação. É o governo mais diverso do pós-Guerra, reunindo representantes do empresariado e ambientalistas. 

O mesmo pode ser dito da coalizão formada em Israel depois de mais uma eleição sem um ganhador claro: ela abriga de ultranacionalistas judeus a um partido árabe islâmico, que participa do governo israelense pela primeira vez.

Os governos de extrema direita da Hungria e da Polônia também sofrem pressões – internas e externas. Os dois países estão sob ameaça de sanções e ações na Justiça por parte da União Europeia, por terem capturado o Judiciário e aprovado leis antidemocráticas no Parlamento. Além disso, a oposição húngara se uniu, realizou primárias e deve enfrentar o primeiro-ministro Viktor Orbán com candidato único em abril ou maio.

Nada disso quer dizer que o caminho da democracia ficou fácil. Nunca foi. Mas há uma resposta visível à onda autoritária.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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