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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Brasil precisa de um plano para arrancar riquezas da Amazônia de pé

Pressão de governo Biden sobre Bolsonaro para garantir metas climáticas e de combate ao desmatamento devem aumentar cada vez mais

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Atualização:

Oito senadores democratas americanos enviaram na sexta-feira uma carta ao presidente Joe Biden sobre as relações com o Brasil. Entre os autores estão dois presidentes de importantes comissões do Senado: Patrick Leahy, do Orçamento, e Bob Menendez, das Relações Exteriores, além de Bernie Sanders, líder da esquerda do Partido Democrata.

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No texto de duas páginas, eles manifestam "profunda preocupação com a aceleração da destruição da Amazônia”, e apoiam esforços do governo Biden para promover cooperação com o Brasil nessa área. Mas advertem que isso "só será possível se o governo Bolsonaro começar a encarar os compromissos climáticos do Brasil com seriedade". 

Os senadores observam: "Bolsonaro tem menosprezado publicamente a principal agência ambiental do Brasil [o Ibama] e sabotado sua capacidade de impor o cumprimento das leis ambientais do país”. Alertam que “a retórica e as políticas de Bolsonaro têm dado luz verde para perigosos criminosos que operam na Amazônia”. E concluem que a ajuda americana deve ser condicionada à redução do desmatamento e ao fim da impunidade.

Brigadistas do Ibama combatem incêndio em unidade de conservação ambiental na região de Manicoré, no Estado do Amazonas Foto: Gabriela Biló/ Estadão

A reação veio um dia depois do envio de uma carta de Jair Bolsonaro a Biden. Nela, o presidente brasileiro reitera o compromisso firmado em 2015 pelo Brasil de eliminar o desmatamento ilegal até 2030, e de zerar a emissão líquida de gases poluentes até 2060. Acrescenta que tentará antecipar essa meta para 2050. 

Em resposta à carta, John Kerry, representante de Biden para mudança climática, tuitou: “A reiteração do compromisso pelo presidente Jair Bolsonaro com a eliminação do desmatamento ilegal é importante. Esperamos ações imediatas e engajamento com populações indígenas e com a sociedade civil para que esse anúncio possa produzir resultados tangíveis”.

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As duas últimas palavras do tuíte são a chave da posição americana. Numa live com o grupo de empresários Parlatório, no domingo, o embaixador americano em Brasília, Todd Chapman, afirmou: “O Brasil tem que trabalhar de maneira muito séria. Não é problema de comunicação, como algumas pessoas dizem, mas de resultados”.

Chapman lembrou que o Brasil já controlou as queimadas, referindo-se ao período entre 2005 e 2012. "Já provaram ao mundo que podem fazer isso. Falta desejo, implementação, recursos, mas o Brasil sabe fazer”. Segundo o embaixador, tudo nas relações com os EUA dependerá disso. O mesmo se aplica à União Europeia.

Há um problema com o timing do novo engajamento do Brasil. A estação de chuvas, que é o período do desmatamento, está terminando agora na Amazônia, e começando a das queimadas. Significa que, se o Brasil se esforçar só a partir de agora para conter a devastação, não terá tanto resultado, porque o que queima na Amazônia é o que foi desmatado meses antes. 

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, declarou, em entrevista, que o Brasil responde por apenas 3% das emissões mundiais, e que são os outros países que têm de apresentar metas mais ambiciosas.

Não é a visão dos EUA e da Europa. O Brasil manteve no fim do ano passado a mesma meta de 2015 de redução das emissões relativas a 2010, embora a base tenha sido revista. Com isso, segundo os cientistas, o Brasil na prática pode aumentar suas emissões. 

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Para manter o mesmo patamar de emissões em termos absolutos, o Brasil precisa elevar a meta de redução em 2025 de 37% para 44% e, em 2030, de 43% para 50%. É por isso que todos os países foram solicitados a rever suas metas.

Um plano para conter o desmatamento é um bom começo. Agora, o Brasil precisa de um plano para arrancar riquezas da floresta de pé, como o que foi proposto pela Academia Brasileira de Ciências em 2008. É isso que tornará a preservação um objetivo do País, em vez de subterfúgio para contornar as pressões do mundo.

* É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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