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Desafios energéticos para as metas de China, Japão e Coreia; leia a análise 

Discurso ma cúpula foi de fortalecimento de parcerias e cooperação, incluindo com os EUA, mas nota-se a rivalidade também pela liderança nas discussões climáticas globais

Por Alexandre Uehara 
Atualização:

A Cúpula dos Líderes sobre o Clima marcou a volta dos EUA a um papel de protagonismo nas discussões mundiais sobre o tema, após um período de afastamento promovido pelo ex-presidente Donald Trump. Foi também um movimento em direção às discussões que serão realizadas na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26) em novembro em Glasgow.

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Líderes de 40 países discursaram sobre a cooperação global para enfrentar a crise climática, entre eles alguns representantes de países asiáticos, que são economicamente importantes e estão também entre os maiores poluidores da atmosfera. De acordo os dados do relatório da Agência Internacional de Energia, em 2018 a China ocupa o primeiro lugar no mundo, representando 28% do total das emissões globais de gases, a Índia (7%) é a terceira, atrás dos EUA (15%), o Japão (3%) o quinto maior e a Coreia Sul (2%) o oitavo. Esses países asiáticos juntos somam cerca de 40% das emissões mundiais, mas neste artigo o foco será sobre os três países do nordeste asiático, China, Coreia do Sul e Japão.

No caso da China, apesar da tensa reunião ocorrida no Alasca há poucas semanas entre representantes do governo de Pequim e Washington, o presidente Xi Jinping marcou presença no evento do presidente Biden. O discurso foi de fortalecimento de parcerias e cooperação, incluindo com os EUA, mas nota-se a rivalidade também pela liderança nas discussões climáticas globais. O presidente chinês afirmou que o pico das emissões ocorrerá até 2030, depois disso haverá reduções das emissões que serão zeradas em 2060. 

Painel eletrônico transmite discurso de Xi Jinping na cúpula do clima Foto: Greg Baker/AFP

Porém, o calcanhar de Aquiles da China é a dependência energética do carvão que abastece, por exemplo, as usinas elétricas e as siderúrgicas nesse país. Quanto maior o crescimento econômico, maior a demanda por aço e energia, consequentemente, maior será a queima de carvão. Portanto, a manutenção da expansão da economia e o cumprimento das metas anunciadas exigirá necessariamente a adoção de fontes sustentáveis de energia.

O presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, apresentou o objetivo de se tornar neutra em emissões de carbono até 2050 e reduzir em 24,4% as emissões de gás carbônico em relação ao nível de 2017 até 2030. Mas, a Coreia é o país membro da OECD com menor participação de recursos renováveis para produção de energia elétrica, cerca de 5%. 

Apesar disso, o presidente sul-coreano apresentou como meta a eliminação do carvão como fonte de energia no país até 2030. Além disso, afirmou que interromperá o financiamento de projetos no exterior que envolvam energia à carvão. A superação da dependência energética do carvão é um desafio, dado que a economia coreana é a quarta maior importadora de carvão do mundo -- atrás apenas da China, Índia e Japão.

O primeiro-ministro Yoshihide Suga ressaltou a disposição japonesa para assumir uma liderança internacional na descarbonização mundial, mas também declarou a necessidade de abordagens multilaterais à solução do problema das mudanças climáticas. Para o Japão, especificamente, apresentou o compromisso de zerar as emissões de gases de efeito estufa até 2050 e, revelou a elevação da meta de redução nas emissões de gases de efeito estufa para 46% até o ano fiscal de 2030 em relação aos níveis de 2013. Esse valor representou uma resposta às críticas da meta anterior de redução que era de 26% para o mesmo período e que era considerado muito tímido.

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Um dos problemas para o Japão cumprir a meta está relacionado ao tríplice desastre ocorrido em Fukushima em 2011, que envolveu o terremoto, o tsunami e a explosão dos reatores nucleares. Por causa desses acontecimentos, há uma lenta retomada da energia nuclear e o país manteve sua matriz energética sustentada no carvão, que é um elemento mais poluidor. Uma política anunciada para tentar contornar essa situação é a iniciativa do governo para criar um ciclo virtuoso entre a economia e o meio ambiente, induzindo o investimento de empresas para maximização do uso de fontes de energia descarbonizadas e de energias renováveis.

Como se pode observar, para cada país há obstáculos a serem superados para o cumprimento das metas, e não só para os países mencionados neste artigo. Ao longo do evento outros líderes apresentaram suas metas, alguns mais ousados outros menos. Mas, algo comum a todos é que os objetivos não serão realizáveis sem real compromisso das partes. Por isso, apesar de ser positiva a realização do evento ao mostrar novamente a importância o tema para o mundo, há a necessidade de que as sociedades em cada país continuem acompanhando e cobrando resultados concretos dos governos, incluindo a do Brasil.

*É COORDENADOR DO NÚCLEO DE ESTUDOS E NEGÓCIOS ASIÁTICOS DA ESPM

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