França retira armas de sete policiais investigados por radicalização após ataque em Paris

Em 3 de outubro, integrante da inteligência da polícia matou quatro colegas a facadas; o assassino era jihadista

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Por Redação
Atualização:

LONDRES – Sete policiais franceses foram obrigados a entregar suas armas e ao menos um funcionário foi suspenso no último mês, depois das forças de segurança do país terem sido encorajadas a reportar sinais de radicalização por parte dos funcionários, segundo afirmou o chefe de polícia, nesta semana, a congressistas.

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A operação acontece em sequência do ataque a faca feito por um veterano no quartel-general da polícia da França, em Paris. Em 3 de outubro, o integrante da inteligência da instituição matou quatro colegas, antes de ser atingido por um tiro fatal no pátio do prédio.

Os assassinatos abruptamente reavivaram a França para a ameaça do terrorismo, e levaram o presidente Emmanuel Macron a reforçar o retorno de uma “sociedade de vigilância”.

Policiais cercam a sede da polícia em Paris após um ataque a faca que matou quatro oficiais Foto: Bertrand Guay/AFP

Um dos sinais mais claros disso foi o foco na radicalização dentro das forças de segurança. Agentes levantaram mais preocupações em relação ao comportamento de colegas nas últimas três semanas do que nos últimos sete anos somados, relatou o chefe da políciam Didier Lallement em uma sessão parlamentar no dia 30.

De acordo com Lallement, 33 alertas foram gerados, levando à retirada das armas dos sete policiais, além da recomendação de suspensão de outros dois agentes. Não houve a divulgação de mais informações sobre os casos.

Dias depois do ataque, Lallement pediu a oficiais para que ficassem mais alertas a mudanças nas roupas, aparência e comportamento, que poderiam sinalizar radicalização.

Em uma cerimônia para as vítimas do ataque a faca, Macron alertou para uma vigilância similar, dizendo que as pessoas deveriam “observar na escola, no trabalho, em locais de culto, perto de casa” por “pequenos gestos” e sinais de radicalização.

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Alguns congressistas sugeriram que a conversão ao islamismo poderia ser um dos sinais. Na quarta-feira, dois deles perguntaram a Lallement se todos aqueles convertidos recentemente na polícia deveriam ser monitorados.

Ele respondeu que a conversão ao islamismo não deveria automaticamente levar a uma “denúncia sistemática”. “Não é assim que procedemos”, disse.

Em foto de arquivo, pessoas se concentram em frente à catedral Notre-Dame em 15 de novembro de 2015, após um ataque terrorista ter matado 131 pessoas em Paris Foto: Tomas Munita/The New York Times

Histórico

A sessão no Congresso foi convocada como parte de um esforço para descobrir porque o assassino, Mickaël Harpon, um técnico de computação de 45 anos, não havia sido classificado como uma ameaça anteriormente.

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Harpon já havia mostrado sinais de radicalização. Depois de 12 pessoas terem sido mortas em 2015, na sede do jornal satírico Charlie Hebdo, que havia publicado charges controversas sobre o islamismo, Harpon teria dito a um colega que a ação era “correta”, de acordo com um documento policial interno vazado.

Porém, os colegas não chegaram a formalizar reclamação alguma, e nenhuma medida foi tomada contra ele.

Uma das vítimas do ataque, o chefe de serviços de inteligência da polícia, havia solicitado que as questões em relação a Harpon fossem resolvidas em sua unidade, e não reportou formalmente os comentários de Harpon para seus superiores.

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Discriminação

Especialistas em segurança alertam que as autoridades devem encontrar um equilíbrio entre o aumento da vigilância e evitar a discriminação em um país onde aumentou a suspeição contra muçulmanos, especialmente após 2015, quando também houve a série de ataques em Paris, entre eles na casa noturna Bataclan.

“Se eles sistematicamente denunciarem as menores ocorrências, haverá alguns abusos”, disse Jean-Charles Brisard, presidente do Centro para Análises de Terrorismo, um grupo de pesquisa com sede em Paris.

Brisard reforçou que a polícia, em termos gerais, esteve alerta para radicalização, e que o ataque no quartel-general foi provavelmente um caso isolado.

Lallement reconheceu, na sessão no Congresso, que ele nunca imaginaria que uma ameaça viesse de dentro da polícia. “Durante o ataque, eu mesmo pensei que estivéssemos sendo atacados por alguém de fora”, disse.

Eric Poulliat, um congressista que foi autor de um relatório divulgado neste ano sobre radicalização no serviço público, disse que as ocorrências abertas por policiais mostram que eles perceberam que poderiam ser alvos de mais ataques de colarinho azul contra colegas.

O relatório mostra que de 150 mil policiais em todo o país, 28 estavam sendo monitorados por atividades suspeitas, até o mês de junho. / NYT

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