As medidas anunciadas pelo presidente argentino, Mauricio Macri, não são nenhuma loucura. É preciso considerar que a desvalorização do câmbio dos últimos dias afetou completamente a inflação esperada na Argentina.
Ela foi de cerca de 25% nos últimos dias e isso terá um efeito inflacionário da ordem de cerca de oito pontos porcentuais mais ou menos adicionados ao esperado. A inflação que deveria terminar em 41%, agora deve alcançar cerca de 50%.
As medidas tomadas por Macri, em sua maioria, afetam o consumo, ou pelo menos libera fundos, e causam impacto nos salários. Mas será preciso compensar o efeito da inflação acima do esperado.
Entre as medidas, as melhores anunciadas ajudarão as pequenas empresas que, financeiramente, vinham se complicando muito por causa das altas dos juros e da recessão. As medidas devem permitir dar uma maior liquidez a essas empresas que estão em uma situação financeira muito complicada.
Podemos até chamar essas medidas de populistas. Mas, na verdade, o resultado eleitoral de domingo somado aos impactos sobre o mercado está levando o governo Macri a assumir um pouco mais de riscos em sua política econômica. É óbvio que muitas dessas medidas têm um componente eleitoral.
Também é certo que o efeito da aceleração da inflação estava meio esquecido. Por exemplo, o salário real na Argentina, na primeira parte do ano, caiu 12%. E se esperava uma recuperação do salário real na segunda metade do ano graças à combinação de uma melhora dos ganhos, por um lado, com os acordos entre sindicatos e empresas e, por outro, uma baixa na inflação.
Mas a medida para baixar a inflação sem pensar na desvalorização do câmbio resultará em uma inflação ainda mais alta. Mais uma vez, será preciso fazer algo para se recuperar o salário.
Acredito que, por um lado, foi por isso que ele anunciou esse pacote e, por outro, buscava uma estratégia com efeito eleitoral, o que não deverá ser significativo.
O presidente Macri está apostando em uma situação muito improvável, que é a de que poderá reverter o resultado eleitoral do fim de semana. Mas para conseguir isso, ele precisará de sorte e oportunidade, e as condições não são muito favoráveis. Trata-se de uma situação muito particular. É possível que o governo ganhe alguns votos, mas para isso a oposição terá de perder votos. E isso não vai acontecer.
O governo acredita que pode ganhar três pontos porcentuais até às eleições e fazer com que a oposição perca três pontos. Dessa maneira, poderia sonhar com um segundo turno. Mas isso é muito difícil.
*ECONOMISTA E DIRETOR DA CONSULTORIA ORLANDO FERRERES & ASSOCIADOS