Johnson ameaça ignorar lei e sair da União Europeia sem acordo

Em entrevista à BBC, primeiro-ministro britânico garante que Brexit ocorrerá de qualquer maneira até dia 31 de outubro

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Por Redação
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MANCHESTER, REINO UNIDO - O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, ameaçou neste domingo, 29, ignorar a lei e se retirar da União Europeia mesmo sem um acordo comercial. No início do mês, os deputados aprovaram um projeto que obriga o premiê a pedir um adiamento do Brexit – marcado para o dia 31 de outubro. Se não cumprir, Johnson poderia ser enquadrado em desacato ao Parlamento – e inclusive ser preso.

Em entrevista ao programa The Andrew Marr Show, da BBC, Johnson foi questionado se era possível deixar a União Europeia sem um acordo no dia 31 de outubro. “É claro que sim”, respondeu. Advogados vêm alertando, desde o início de setembro, que a única saída do premiê para driblar a lei é a renúncia – o que ele rejeita.

Boris Johnson e sua namoradaCarrie Symonds chegam à convenção do Partido Conservador, em Manchester Foto: Henry Nicholls/Reuters

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Entre assessores mais próximos e defensores radicais de um Brexit sem acordo, existe uma discussão se valeria ou não a pena Johnson assumir uma pena leve de prisão por desacato para se tornar uma espécie de “mártir” do movimento. 

Hoje, Johnson voltou a prometer concretizar o Brexit a qualquer custo em 31 de outubro. Ele deu a declaração antes do início da conferência anual do Partido Conservador, em Manchester. Durante a reunião, o primeiro-ministro garantiu que não deixará o cargo, mesmo que não consiga um acordo para tirar o Reino Unido da UE. “Não vou renunciar. Eu me comprometi a liderar o partido e meu país em um momento difícil e vou continuar fazendo isso. Acredito que é minha responsabilidade.”

Johnson, que conta com apoio da maior parte da base do Partido Conservador, chegou ao poder em julho com a promessa de concluir o processo do Brexit – decidido por 52% dos britânicos no plebiscito de 2016 – mesmo sem um acordo comercial com a UE e ainda que o Parlamento o proíba. 

Denúncias contra o premiê 

Além de enfrentar um Parlamento hostil, Johnson começa a semana envolvido em outros escândalos. O primeiro é uma investigação, aberta no fim de semana por autoridades de Londres, sobre sua relação com Jennifer Arcuri, ex-modelo e empresária americana que teria recebido privilégios da prefeitura comandada por ele entre 2008 e 2016. 

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A empresária americana que recebeu milhares de dólares de uma agência do governo sob controle do premiê britânico afirmou a amigos que os dois tiveram um caso, segundo reportagem do jornal britânico The Sunday Times

A empresária americanaJennifer Arcuri Foto: Guy Lewis / AFP

A revelação intensifica o escândalo no qual Johnson está envolvido. Autoridades de Londres anunciaram, no sábado, a abertura de uma investigação para apurar ilegalidades cometidas por ele. A empresária teria recebido US$ 155 mil (cerca de R$ 640 mil) em verbas públicas e teria tido acesso privilegiado em viagens comerciais internacionais e patrocínios, segundo o jornal. Ao todo, teriam sido três missões oficiais de comércio exterior ao lado de Johnson. 

Outra questão incômoda é o relato da jornalista Charlotte Edwardes, editora do Sunday Times, que acusa Johnson de assédio durante um jantar, em 1999 – ele teria colocado a mão na coxa de Charlotte por debaixo da mesa. O governo foi obrigado a emitir um comunicado negando tudo.

Amparado por pesquisas 

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O premiê, porém, também recebeu boas notícias no fim de semana. Uma pesquisa de opinião publicada pelo jornal Observer mostrou que o Partido Conservador lidera com folga as intenções de voto, mesmo diante de tanta turbulência. Johnson obteria hoje 36% dos votos – 1 ponto porcentual a menos do que ele tinha na semana passada.

O maior partido de oposição, o Trabalhista, teria 24% – um crescimento de 3 pontos porcentuais, mas ainda longe dos conservadores. Em terceiro lugar vem o Partido Liberal-Democrata, com 20% das intenções de voto. Até o momento, os liberal-democratas são os que mais ganharam apoio entre os eleitores que defendem a permanência na UE. / AFP e EFE

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