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Movimentação russa na Ucrânia preocupa europeus e Biden mobiliza Otan

Aliados dos EUA reforçaram as ameaças de sanções à Rússia, mas preocupações continuam mesmo após encontro entre Biden e Putin

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - Os recentes movimentos da Rússia na fronteira com a Ucrânia têm preocupado líderes europeus de uma possível invasão à ex-república soviética. Após conversar por duas horas na terça-feira, 7, com o presidente russo, Vladimir Putin, o líder americano, Joe Biden, tenta agora acalmar os aliados da  Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

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Segundo relatórios da inteligência americana, aproximadamente 175 mil soldados russos já se deslocaram para a fronteira ucraniana, apesar de Moscou negar agressividades. A ação fez Biden prometer graves consequências se Putin ultrapassar seus limites. “Deixei bem claro que, se invadir a Ucrânia, haverá consequências, graves consequências, consequências econômicas como nunca se viu antes", declarou Biden.

Logo após a reunião, Biden falou com seus homólogos no Reino Unido, França, Alemanha e Itália. Na quinta-feira, 9, o líder americano também telefonou para o presidente ucraniano Volodimir Zelenski, para expressar apoio em face de um possível ataque a Moscou.

Soldado ucraniano em trincheira perto de Svetlodarsk, na fronteira com a Rússia; americanos tentam conter ação militar russa Foto: Anatoli Stepanov/EFE

Zelenski agradeceu a Biden por seu apoio constante, firme e decidido à soberania e à integridade territorial da Ucrânia e reafirmou seu compromisso com a busca da paz, declarou a presidência ucraniana em um comunicado após a conversa.

A agenda de Biden continua cheia com promessas de conversa com o chamado Nove de Bucareste, grupo de países do Leste Europeu que se juntaram à Otan após o colapso soviético de 1991. O grupo inclui: Bulgária, República Tcheca, Hungria, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia e Eslováquia.

Leste europeu em alerta

Logo após o encontro virtual com Putin, Biden deu uma coletiva de imprensa que deixou alguns países do leste europeu alarmados. O líder americano disse que os membros da Otan ainda devem se reunir com a Rússia para discutir os movimentos militares.

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O temor desses países vizinhos à Rússia é de que, em nome de não se envolver militarmente na fronteira ucraniana, Biden aceite algumas concessões de Putin. O russoexigiu que a Otan descartasse a possibilidade de tornar Kiev um membro e quer que a aliança cesse as implantações militares nos países membros do leste europeu que fazem fronteira com a Rússia.

“A Rússia não deve, em nenhuma circunstância, ter voz sobre quem pode ou não ser membro da Otan”, disse o primeiro-ministro da Estônia, Kaja Kallas, em entrevista coletiva. “O desejo de Moscou é dividir a Europa em esferas de influência. Nós nos lembramos desse tipo de momento de nossa própria história e não somos de forma alguma ingênuos nesse assunto”.

A fala de Biden, durante a coletiva de imprensa, de que deveria se reunir com “ao menos quatro aliados da Otan” irritou os países bálticos, que temem ser excluídos de decisões acerca de como lidar com a Rússia em benefício dos membros da Europa Ocidental.

Europeus reforçam ameaças

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Além dos Estados Unidos, Kiev também recebeu o apoio dos principais aliados europeus dos Estados Unidos. O novo chanceler alemão, Olaf Scholz, ameaçou na quarta-feira com possíveis consequências sobre o desenvolvimento e ativação do gasoduto Nord Stream II que conecta a Rússia com a Alemanha se as tropas de Moscou invadirem a Ucrânia.

“Nossa posição é muito clara, queremos que todos respeitem a inviolabilidade das fronteiras, senão todos devem entender que isso teria consequências”, declarou em sua primeira entrevista após assumir o poder.

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, concordaram sobre a necessidade de impor sanções rápidas e severas à Rússia caso a escalada militar se intensifique.

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Reino Unido e França também se juntaram ao coro de vozes europeias que pedem a Putin para se conter. O ministro da Defesa da Grã-Bretanha, Ben Wallace, pediu ao presidente russo que recue da fronteira. Já o Ministério de Relações Exteriores francês advertiu em uma nota sobre as "consequências estratégicas e maciças" que a Rússia enfrentaria em caso de uma agressão à Ucrânia. 

"Qualquer ação da Rússia para ameaçar a soberania da Ucrânia não teria apenas consequências graves, elas teriam consequências duradouras para a Rússia", disse Wallace.

Rússia teme avanço da Otan no Leste

A Rússia, que anexou a península da Crimeia em 2014, nega qualquer intenção de guerra em relação ao seu vizinho, mas se opõe categoricamente à adesão de Kiev à Otan. Moscou está pedindo garantias legais confiáveis de que isso não acontecerá.

Durante o encontro de alto-nível, Putin disse a Biden que a Rússia tem o direito de defender sua segurança e que permitir que a Otan se aproxime de suas fronteiras sem uma reação seria criminoso. Constantemente ele lembra das linhas vermelhas que a organização não pode ultrapassar.

“Só podemos estar preocupados com a eventualidade da entrada da Ucrânia na Otan, porque isso seria, sem dúvida, acompanhado por um destacamento de contingentes militares, bases e armas que nos ameaçam”, acrescentou.

A Otan é uma aliança liderada pelos americanos criada para se opor à União Soviética após o fim da Segunda Guerra Mundial. Em 2008, o grupo prometeu aderir a duas ex-repúblicas soviéticas, Ucrânia e Geórgia, mas sem especificar quando ou como.

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A Rússia viu a oferta como uma ameaça potencial em suas fronteiras e uma invasão ao coração de sua esfera de influência, a mais séria em uma série de afrontas e humilhações por parte do Ocidente desde a queda da União Soviética. Desde o início, algumas nações da Otan questionaram se a oferta de adesão foi uma medida acertada, e não está claro se a promessa algum dia será cumprida, mas previsivelmente, ela alimentou um conflito duradouro com o presidente Vladimir Putin.

Atualmente, a Ucrânia é considerada uma parceira da organização, mas não membro. Ou seja, os países membros não têm a obrigação de defender os ucranianos no caso de uma invasão russa. Mas a expansão de Putin para as fronteiras da Europa exigiria uma ação na tentativa de conter a influência.

Biden já disse que a obrigação que o vincula aos países da aliança atlântica não se estende à Ucrânia, excluindo por enquanto o envio de tropas, já que, em suas palavras, os Estados Unidos não têm interesse num confronto direto com os russos.

Mas ele alertou que um ataque russo provocaria um reforço da presença militar dos EUA em países membros da Otan da Europa Oriental. Ele também garantiu claramente à Ucrânia que, no caso de um ataque, os Estados Unidos fornecerão meios de defesa.

Kiev receberá armas leves e munições, enviadas esta semana sob um plano de apoio aprovado por Biden, anunciou na quarta-feira o porta-voz do Pentágono, John Kirby. Além disso, ajuda a treinar as forças ucranianas e promete mais de US$ 2,5 bilhões para reforçar um exército que desabou em face da incursão russa para anexar a Crimeia em 2014.

Kiev acusa o Kremlin de apoiar separatistas pró-russos no leste do país, algo que Moscou nega, em um conflito interno que já deixou mais de 13.000 mortos. A Ucrânia se comprometeu esta semana, antes do feriado de Natal, a negociar um cessar-fogo, a libertação de detidos e a reabertura de viagens em áreas disputadas no leste./ NEW YORK TIMES, AFP E REUTERS

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