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Oligarcas russos se negaram a cooperar em investigação sobre Trump

Departamento de Justiça tentou fazer acordo com seis bilionários ligados a Vladimir Putin, sem sucesso

Por Kenneth P. Vogel
Atualização:

Entre 2014 e 2016, o FBI e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos tentaram, sem sucesso, obter informações e fazer um acordo de delação premiada com o oligarca russo Oleg Deripaska, dono da gigante do alumínio Rusal. Deripaska mantém laços estreitos com o presidente russo Vladimir Putin e foi um dos empresários mais afetados pelas sanções americanas à Rússia.

Trump denuncia frequentemente a investigação de Mueller como uma "caça às bruxas" motivada politicamente Foto: Evan Vucci / AP

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Deripaska foi um dos seis oligarcas russos próximos ao presidente Vladimir Putin procurados pelos americanos de forma secreta. O objetivo das autoridades americanas era obter informações sobre o crime organizado russo, a suposta interferência russa nas eleições presidenciais de 2016, e o possível conluio entre a equipe de campanha de Donald Trump e Moscou. 

Em troca, o FBI e o Departamento de Justiça teriam oferecido ajuda para os russos obterem vistos para os Estados Unidos ou até mesmo explorar outras medidas para resolver os problemas legais que enfrentavam em virtude das sanções americanas. Segundo o jornal, nenhum deles cooperou.

Em um encontro dramático, os agentes do FBI apareceram sem avisar e sem serem convidados em uma casa que Deripaska mantém em Nova York e o pressionaram sobre se Paul Manafort, ex-sócio do oligarca e ex-chefe da campanha de Donald Trump. No mês passado, Manafort foi condenado na Justiça dos EUA que foi considerado culpado de oito crimes, incluindo fraude bancária e sonegação.

O esforço sistemático para obter a cooperação dos oligarcas, que não havia sido revelado anteriormente, parece não ter obtido nenhum sucesso. No caso de Deripaska foi ainda pior: ele disse aos investigadores americanos que discordava de suas teorias sobre o crime organizado russo e o conluio do Kremlin na campanha, disse uma pessoa familiarizada com o caso. Deripaska notificou o Kremlin sobre os esforços americanos para cultivá-lo.

Os contatos de Deripaska com o FBI ocorreram em setembro de 2015 e no mesmo mês um ano depois. A última reunião ocorreu dois meses após o FBI começar a investigar a interferência russa na eleição americana e um mês depois que Manafort deixou a campanha de Trump, em meio a relatos sobre seu trabalho para partidos políticos alinhados com a Rússia na Ucrânia.

O contato com Deripaska, que é tão próximo do presidente russo que foi chamado de “oligarca de Putin”, não foi tão distante quanto poderia parecer. Ele havia trabalhado com o governo dos Estados Unidos no passado, inclusive em um frustrado esforço para resgatar uma agente do FBI capturada no Irã, no qual ele teria gasto até US$ 25 milhões de seu próprio dinheiro. 

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Dois dos envolvidos no esforço foram Bruce Ohr, o funcionário do Departamento de Justiça que recentemente se tornou alvo de ataques de Donald Trump, e Christopher Steele, o ex-espião britânico que compilou um dossiê de supostas ligações entre a campanha de Trump e a Rússia.

O programa foi liderado pelp FBI. Ohr, que há muito tempo trabalhava no combate ao crime organizado russo, era um dos funcionários do Departamento de Justiça envolvidos.

Steele serviu como intermediário entre os americanos e os oligarcas russos que eles estavam procurando cultivar. Ele conheceu Ohr anos antes enquanto ainda servia no MI6, a agência de espionagem do REino Unido. Depois de se aposentar, ele abriu uma empresa de inteligência de negócios e rastreou o crime organizado russo e os interesses comerciais de clientes privados, incluindo um dos advogados de Deripaska.

Mas as consequências dos esforços estão agora se espalhando pela política americana e ajudaram a alimentar a campanha de Trump para desacreditar a investigação sobre o alegado conluio de sua campanha com a Rússia.

Os contatos entre Ohr e Steele foram detalhados em e-mails e notas que o Departamento de Justiça entregou aos republicanos no Congresso no início deste ano. Vários jornalistas de notícias conservadoras exploraram estes contatos.

A revelação de que Ohr e Steele se envolveram na investigação forneceu aos aliados do presidente mais material para atacar a investigação liderada pelo promotor especial Robert Mueller, e disseminar a ideia de uma vasta conspiração do estado “empenhado em minar Trump e seu governo”. Trump e seus aliados aproveitaram o fato de que Ohr e Steele ajudaram o para atacar a investigação sobre a interferência da eleição russa como uma “caça às bruxas”.

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