Pesquisadores ligados ao MIT, nos EUA, afirmam que não há indícios de fraude em eleições bolivianas

John Curiel e Jack Williams publicaram relatório que contradiz a denúncia da Organização dos Estados Americanos que desencadeou na renúncia de Evo Morales

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - Dois pesquisadores norte-americanos questionaram a fraude eleitoral encontrada pelos observadores da Organização de Estados Americanos (OEA) na Bolívia, que levou à renúncia do então reeleito presidente Evo Morales e à convocação de novas eleições.

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O relatório de John Curiel e Jack Williams, encomendado pelo Centro de Pesquisa Econômica e Política (CEPR), com sede em Washington, e publicado na quinta-feira no jornal The Washington Post, fez com que governo mexicano, que deu asilo a Morales depois que ele deixou o poder, solicitasse esclarecimentos à Secretaria-Geral da OEA.

Curiel e Williams explicaram suas descobertas em um artigo intitulado "A Bolívia rejeitou suas eleições de outubro por fraude. Nossa investigação não encontrou motivos para suspeitar de fraude". 

O ex-presidente da Bolívia, Evo Morales, que renunciou ao cargo após ser reeleito em eleições supostamente fraudadas Foto: Claudio Cruz/AFP

"Como especialistas em integridade eleitoral, descobrimos que as evidências estatísticas não apoiam a alegação de fraude nas eleições de outubro na Bolívia", afirmaram.

Essas declarações contradizem o relatório da missão eleitoral da OEA, que concluiu que houve "manipulação maliciosa" nas eleições gerais de 20 de outubro e indicou a impossibilidade de validar os resultados. 

A auditoria da OEA desencadeou a renúncia de Morales em 10 de novembro, em meio a uma convulsão social, seu asilo no México e depois na Argentina, além da anulação das eleições, remarcadas posteriormente para 3 de maio sem a participação do ex-presidente.

Em uma carta enviada aos editores do The Washington Post nesta sexta-feira, o chefe de gabinete da Secretaria-Geral da OEA, Gonzalo Koncke, disse que o artigo de Curiel e Williams "contém várias falsidades, imprecisões e omissões" e destacou que os resultados da missão do organismo regional "demonstra inequivocamente que houve 'manipulação intencional' das eleições". 

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"A OEA continua apoiando seu trabalho e continuará a alertar sobre todos os esforços, como este, para manipular a opinião pública", afirmou. 

Na sexta-feira, o Ministério das Relações Exteriores do México divulgou uma carta enviada por sua missão permanente à OEA à Secretaria-Geral chefiada por Luis Almagro, agradecendo "amplamente" o esclarecimento "escrito" das discrepâncias entre os dois relatórios.

Pedido do México

Além disso, foi pedido que "se solicite a pesquisadores especializados independentes a elaboração de uma análise comparativa das conclusões" de ambos os relatórios.

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A mensagem apresenta a análise de Curiel e Williams como uma investigação do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), mas o estudo não foi feito pela prestigiosa universidade americana. 

Curiel e Williams foram contratados em dezembro pelo CEPR para que verificassem de forma "independente" uma pesquisa de novembro desse grupo de estudos progressistas.

Ao revelar na quinta-feira a análise de Curiel e Williams, o CEPR esclareceu que "qualquer análise e interpretação das descobertas nesse relatório expressam unicamente os pontos de vista dos autores, investigadores do laboratório eleitoral do MIT".

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"Não conseguimos encontrar resultados que nos levem à mesma conclusão que a OEA. Acreditamos que é muito provável que Morales tenha obtido a margem de 10 pontos percentuais necessários para vencer no primeiro turno das eleições em 20 de outubro de 2019", disseram os pesquisadores na análise publicada no site do CEPR.

O CEPR havia apresentado em novembro um relatório apontando para a ausência de irregularidades nas eleições bolivianas das quais Morales saiu vitorioso. /AFP

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