WASHINGTON - O gabinete do procurador especial Robert Mueller, responsável pelas investigações sobre as interferências russas nas eleições americanas, divulgou comunicado à imprensa classificando uma reportagem do Buzzfeed News divulgada na quinta, 17, como 'imprecisa'. A matéria acusa Trump de supostamente pedir a seu ex-advogado, Michael Cohan, que mentisse em depoimento ao Congresso sobre a ligação dos russos com a campanha presidencial americana de 2016.

"As descrições do Buzzfeed de declarações específicas do gabinete do procurador especial e a caracterização de documentos e testemunhos obtidos por este escritório relativos ao depoimento de Michael Cohen não são precisos", disse Peter Carr, porta-voz de Mueller.
A declaração é rara: a equipe de Mueller não tem o costume de comentar ou responder reportagens sobre as investigações, mantendo suas declarações apenas nos autos dos processos judiciais. O pronunciamento poderá dar munição aos argumentos de Trump e aliados que a matéria é falsa, imprecisa e injusta.
Segundo a reportagem, Mueller obteve e-mails, mensagens e testemunhos sobre a suposta ação de Trump para interferir no depoimento de Cohen, fazendo-o mentir sobre a extensão das discussões envolvendo um projeto de uma Trump Tower em Moscou. O projeto nunca foi aprovado, mas o ex-advogado admitiu ter mentido sobre o assunto ao Congresso no ano passado. As informações teriam sido confirmadas por duas fontes ligadas aos investigadores federais.
A matéria é considerada explosiva por implicar Trump no suposto crime de obstrução de justiça, elevando as especulações sobre um possível impeachment.
Trump comentou a declaração do gabinete de Mueller pelo Twitter, afirmando que "notícias falsas são as verdadeiras inimigas do povo".
O editor-chefe do Buzzfeed News, Ben Smith, rebateu as críticas. "Nós manteremos a nossa reportagem e as fontes que nos informaram, e pedimos ao Procurador Especial que esclareça o que está questionando", disse.
Cohen deverá prestar testemunho ao Comitê de Supervisão da Câmara no início de fevereiro. Ele se declarou culpado em novembro por mentir sob juramento à Câmara sobre as negociações da Trump Tower em Moscou. À época, Cohen disse que as conversas com os russos terminaram em janeiro de 2016, quando na verdade elas continuaram até junho daquele ano.

O ex-advogado do presidente disse ter se reunido com a equipe do então candidato republicano para atualizá-lo sobre as negociações e que teria consultado a equipe de defesa de Trump antes de prestar depoimento ao Congresso. No entanto, é incerto se Trump teve um papel direto em influenciar Cohen a mentir sob juramento.
Após a publicação da reportagem do Buzzfeed News, o advogado de Trump, Rudy Giuliani, duvidou das informações e desacreditou de Cohen. /THE WASHINGTON POST