Repatriados, venezuelanos já falam em voltar para o Brasil

Imigrantes usam acordo de repatriação fechado entre Maduro e governadora Suely Campos para rever família e depois regressar ao País

PUBLICIDADE

Por Cyneida Correia
Atualização:

Há duas semanas, a governadora de Roraima, Suely Campos (PP), foi a Caracas e fechou um acordo para ajudar o presidente Nicolás Maduro na repatriação de refugiados. O pacto é parte do programa “Volta à Pátria”, feito pelo chavismo para melhorar a imagem do governo. Em Boa Vista, porém, muitos que aderiram ao programa dizem que usarão a viagem de volta para rever a família e depois voltar ao Brasil.

Cidade brasileira na fronteira com a Venezuela que recebe centenas de imigrantes todos os dias Foto: Nilton Fukuda/Estadão

PUBLICIDADE

Richard de Jesús Cardoso, de 24 anos, disse que chegou há um ano ao Brasil. Saiu de El Tigre, no Estado de Anzoátegui, em busca de melhores condições de vida e deixou a mulher grávida. Em Roraima, trabalha vendendo e descarregando melancias na Feira do Produtor, ganhando R$ 20 por dia. 

A renda nunca foi suficiente para se sustentar nem para visitar a família. Agora, ele vai aproveitar o programa de Maduro para ver a filha que nasceu e visitar os parentes. Depois, pretende voltar, arranjar um emprego melhor – quem sabe até trazer a família. “Vou conhecer a minha filha, depois eu volto”, afirmou.

Iuri Mendes, venezuelana de 38 anos que está no Brasil há sete meses, vai retornar pelo mesmo motivo: para ver o filho que está na Venezuela com a mãe. “Quero voltar para casa para estar com meu filho, mas não sei se vou ficar. Quero voltar ao Brasil. Sei que a Venezuela ainda não está dando possibilidades de emprego e comida”, afirmou. 

A mesma coisa disse Marisol López, de 28 anos. “Também vou, pois quero ver minha família, mas voltarei assim que possível.” Imagem. O projeto “Volta à Pátria” foi criado em agosto. Mas, segundo imigrantes que não quiseram se identificar, a volta não é fácil Os ônibus que levam os imigrantes de Boa Vista são direcionados até a Guarda Nacional, de lá, eles são enviados para as cidades onde vivem. A ajuda termina aí. 

Com isso, a maioria teme sair de uma situação ruim para voltar a passar fome na Venezuela. Outro problema é que muitos temem represálias. “Os que chegam são obrigados a jurar a bandeira e prometer que não sairão mais, sob a pena de ter seus carnês da pátria tomados”, disse um deles.

A situação na fronteira continua tensa. Todos os dias, mais de 800 venezuelanos entram em Roraima, que já recebeu, segundo a Polícia Federal, mais de 72 mil pedidos de refúgio. 

Publicidade

Apesar da governadora ter se comprometido a ajuda Maduro fornecendo transporte até a fronteira, o acordo não teria sido formalizado. Em ofício ao Ministério Público Federal, o governo de Roraima explicou que o apoio foi oferecido de forma informal, porque estabelecer relações com outros países é prerrogativa do governo federal. “O que o MP perguntou é se houve a formalização. A resposta é não”, informou secretário-chefe da Casa Civil de Roraima, Frederico Linhares.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.