LA PAZ - A oposição boliviana comemorou no domingo 21 a vitória do "Não", prevista pelas pesquisas de apuração rápida, no referendo que consultou sobre uma reforma constitucional para permitir ao presidente Evo Morales voltar a concorrer nas eleições de 2019.
O líder da opositora União Nacional, o empresário Samuel Doria Medina, parabenizou "o indômito povo boliviano". "Foi sepultado o projeto de transformar nosso país em um projeto de um só partido, em transformar nosso Estado em autoritário", afirmou.
O político, três vezes candidato à presidência, comparou o dia do referendo com 10 de outubro de 1982, quando jurou como presidente o político de esquerda Hernán Siles Suazo, após vários anos de ditaduras e golpes militares, inaugurando este período democrático. "Recuperamos a democracia, recuperamos o direito de escolher."
Medina pediu a Morales que "reconheça o resultado" e se dedique a trabalhar pelo país em vez de fazer campanha eleitoral, enquanto os demais opositores disseram que "não é momento de candidatos nem de divisão". "Ninguém pode se atribuir essa vitória em particular, essa é a vitória de todas e todos os bolivianos", disse Medina.
Ainda sem resultados oficiais, as primeiras pesquisas divulgadas pela imprensa boliviana dão ao "Não" entre 51% e 52,3% e ao "Sim" entre 47,7% e 49%. A diferença é tão pequena que o resultado pode ser revertido na demorada contagem oficial.
Em meio a um clima de tensão gerado por recentes casos de violência e acusações de abuso de poder, 52,3 por cento dos bolivianos votaram a favor do "Não" à reforma constitucional que permitiria a opção de uma nova reeleição, ante 47,7 por cento para o "Sim", segundo a consultoria Ipsos.
Segundo a pesquisa boca de urna Equipos Mori, o "Não" venceu com 51 por cento contra 49 por cento do "Sim", um resultado que se for confirmado na apuração obrigará Morales a deixar o poder no final do seu terceiro e atual mandato, em 2020.
Mais de 6,5 milhões de bolivianos foram convocados para o referendo, no qual se consultou sobre uma reforma constitucional para ampliar a permissão de dois para três os mandatos presidenciais consecutivos, o que possibilitaria que Evo e seu vice, Álvaro García Linera, pudessem voltar a ser candidatos.
Para o ex-presidente Jorge Quiroga (2001-2002), quem votou pelo "Não" disse "não à mudança de regras para beneficiar duas pessoas que querem continuar na gestão pública". "Estamos dizendo 'Não' para não ingressar na América do Sul o vergonhoso clube venezuelano onde se mudam as regras para que desfalquem e quebrem um país como fizeram lá. Queremos que nosso país pertença ao clube das democracias sul-americanas."
Quiroga afirmou que o "Não" significa também que Evo deve cumprir seu mandato até 2020 e depois deve ir "para sua casa, como acontece em qualquer democracia que se preze". "Tomara que o presidente entenda que em pouco mais de um ano, seja qual for o resultado final, claramente perdeu entre 12 a 14 ou possivelmente mais pontos de apoio. Deveria entender perfeitamente o que está acontecendo", acrescentou, em alusão à diminuição de apoio que se registrou domingo contra 63% da votação de 2014.
O governador de Santa Cruz, o opositor Rubén Costas, afirmou que o resultado se obteve graças à "luta" e aos princípios de "todo um povo que defende a liberdade e a verdadeira justiça". /EFE e REUTERS