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The Economist: A arriscada aposta de Bibi de anexar a Cisjordânia

Primeiro-ministro de Israel está em busca dos votos da direita israelense antes das eleições de terça-feira

Por The Economist
Atualização:

Nos últimos quatro anos, Binyamin Netanyahu vem se recusando a atender à maioria dos pedidos de entrevista. Mas, na luta por um quinto mandato como primeiro-ministro de Israel no que tende a ser uma apertada disputa, na terça-feira, 9, ele tem ido aos estúdios de televisão para apelar pela ajuda dos eleitores de direita. Numa entrevista no sábado, ele ofereceu algo novo aos israelenses: a anexação dos assentamentos judaicos na Cisjordânia ocupada. 

Possibilidade de que Bibi possa ter de responder a um processo no cargo levanta dúvidas jurídicas e alimenta a reticência do eleitorado Foto: Uriel Sinai/The New York Times

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Netanyahu prometeu especificamente estender a soberania israelense a Maale Adumim, um grande bloco de assentamentos nas redondezas de Jerusalém. Ainda está vago como seria feita esta anexação, mas a mensagem foi clara: “Não vou desmantelar nenhum assentamento e vou garantir nosso domínio no território a oeste do Rio Jordão”. 

Israel capturou a Cisjordânia na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e anexou imediatamente a parte oriental de Jerusalém. Mas desde então não fez nenhuma investida para anexar a Cisjordânia, apesar de a maioria dos primeiros-ministros israelenses terem sido de direita. Menachem Begin, fundador do Partido Likud, hoje liderado por Netanyahu, falou em reivindicar a Cisjordânia, mas nunca levou a ideia adiante ao se tornar primeiro-ministro, em 1977.

Tal decisão significará absorver 3 milhões de palestinos, o que tornará difícil para Israel ser tanto um Estado judeu quanto democrático. Mesmo se Israel simplesmente anexar assentamentos judaicos na Cisjordânia, isso deixaria os palestinos com ilhas desconectadas de território, provavelmente matando a solução de dois Estados.

Netanyahu é primeiro-ministro há dez anos, durante os quais se recusou teimosamente a fazer qualquer concessão aos palestinos. Mas ele é também um dos dois únicos membros de seu partido no Knesset que não defenderam a anexação da Cisjordânia. Então, por que ele está propondo isso agora? Há duas razões possíveis: uma política e a outra estratégica. 

As pesquisas mostram o bloco de partidos nacionalistas e religiosos de Netanyahu à frente da oposição de centro-esquerda. Se não houver mudanças, ele provavelmente continuará primeiro-ministro. Mas o Likud está disputando cabeça a cabeça com o Azul e Branco, novo partido de centro liderado por Benny Gantz, um ex-general.

Mesmo que vença, Netanyahu teme perder votos do Azul e Branco. Um Likud menor estaria mais à mercê de seus aliados de direita, que poderiam reivindicar ministérios poderosos ou mudanças políticas. Ao acenar com a perspectiva de anexação, ele pode estar esperando convencer mais de seus apoiadores a votarem no Likud. “É uma gritante jogada eleitoral”, disse um ministro. “Não houve discussões sobre isso no gabinete.”

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Mas Netanyahu também pode estar procurando uma saída. Nos últimos dois anos, o presidente Donald Trump reconheceu Jerusalém como capital de Israel e o controle israelense sobre as Colinas do Golan, capturadas da Síria em 1967. No mês passado, quando Netanyahu voltava de uma visita a Trump, repórteres foram informados de que o reconhecimento americano do Golan poderia servir de precedente para outros territórios obtidos por Israel numa “guerra defensiva”.

Enfrentando acusações de corrupção, Netanyahu será cada vez mais pressionado por seus parceiros de direita a manter essa última promessa de campanha ou correr o risco de perder o apoio deles. Ele pode também estar pensando que pode seguir em frente anexando apenas Maale Adumim. Mas mesmo isso poderia causar uma crise diplomática com aliados não americanos de Israel ainda comprometidos com a solução de dois Estados. 

Os palestinos podem ver na medida uma ameaça a qualquer perspectiva de soberania. Mas, para Netanyahu, esse parece ser exatamente o ponto: “Temos de controlar nosso destino, o que ficará impossível se tivermos (na Cisjordânia) uma entidade árabe independente – um Estado árabe, para todos os efeitos. Um Estado palestino. Isso poria nossa existência em perigo”. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

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