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Trump quer impor cotas a juízes de imigração

Governo exigirá que magistrados examinem 700 casos por ano para acelerar deportações

Por Nick Miroff
Atualização:

O governo de Donald Trump quer impor cotas a juízes de imigração. Segundo novas diretrizes do Departamento de Justiça dos EUA, reveladas nesta segunda-feira pelo jornal Wall Street Journal, para acelerar as deportações, cada magistrado teria de examinar 700 casos por ano para receber uma nota “satisfatória” e evitar punições – não especificadas pelas normativas.

 A intenção do secretário de Justiça, Jeff Sessions, é reduzir a pilha de 600 mil casos acumulados sob as mesas dos juízes do Escritório Executivo para Revisão de Imigração (EOIR, na sigla em inglês), que julga casos envolvendo imigrantes. 

O presidente dos Estados Unidos,Donald Trump. Foto: Ted S. Warren / AP

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Em muitos processos, a deportação é uma batalha legal que pode levar anos. Enquanto aguardam uma decisão, os imigrantes são normalmente autorizados a trabalhar nos EUA para se sustentarem, um arranjo que muitos críticos afirmam incentivar a chegada de mais ilegais.

De acordo com cópias das diretrizes obtidas pelo Wall Street Journal, o sistema de cotas tem como objetivo “assegurar que os casos sejam concluídos de maneira mais rápida e eficiente.” As normas puniriam magistrados que enviarem mais de 15% dos casos para a Suprema Corte ou juízes que remarcarem audiências para datas muito distantes.

Em média, um juiz de imigração examina 678 casos por ano, segundo Devin O’Malley, porta-voz do Departamento de Justiça. “Alguns analisam até 1.000 casos. Portanto, não significa uma alteração tão grande.” O’Malley disse que os magistrados que não conseguirem cumprir a meta, podem recorrer a supervisores.

O EOIR é parte do Poder Executivo, não do Judiciário, e funciona como um órgão do Departamento de Justiça – ainda que tenha de atuar com independência. Ashley Tabaddor, presidente da Associação Nacional dos Juízes de Imigração, criticou a medida. “Um sistema de cotas pode colocar em questão a integridade e a imparcialidade do tribunal, já que a decisão do juiz passa a ser influenciada por fatores externos ao caso”, disse. 

Nos últimos meses, o governo tem acelerado a contratação de novos magistrados, medida que Carl Tobias, professor de Direito da Universidade de Richmond, considera mais racional. “As cotas levantariam questões sobre a independência dos tribunais e aumentaria a chance de um juiz embasar sua decisão em outros fatores que não a lei.”

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No passado, Trump já havia criticado a lentidão dos processos de deportação nos EUA. Durante o feriado de Páscoa, o presidente se queixou que os imigrantes se “aproveitavam de leis estúpidas” para ficar no país e acusou o México de “fazer muito pouco” para evitar a imigração ilegal.

“O México está fazendo muito pouco ou nada para impedir que as pessoas cheguem por sua fronteira sul, e depois entrem nos EUA. Eles riem de nossas leis idiotas de imigração”, escreveu Trump em sua conta no Twitter.

No domingo, o presidente disse que não haveria mais acordo para legalizar imigrantes que são protegidos pelo Daca, programa criado pelo ex-presidente Barack Obama para impedir a deportação de jovens levados aos EUA quando eram crianças.

O presidente tinha dado um ultimato para que o Congresso regularizasse a situação até o fim de março – o prazo expirou no sábado. Ainda não houve acordo sobre o assunto, mas o programa continua em vigor em razão de decisões judiciais.

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