A iconografia do ataque terrorista a mesquita na Nova Zelândia

Atirador que deixou ao menos 49 mortos em Christchurch cobriu rifles, munições e colete com referências sobre batalhas históricas contra muçulmanos e símbolos supremacistas brancos

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Por Jon Gambrell
Atualização:

O autor do ataque a uma mesquita na Nova Zelândia durante as orações desta sexta-feira, 15, que deixou 49 mortos usou rifles cobertos de grafites de supremacia branca e ouviu uma canção glorificando criminosos de guerra servo-bósnio.

Esses detalhes destacam as crenças extremistas por trás de um massacre sem precedentes, transmitido ao vivo pela internet, que a primeira-ministra Jacinda Ardern chamou de "um dos dias mais sombrios da Nova Zelândia".

Carregadores de fuzis usado por atirador na Nova Zelândia referências a símbolos supremacistas brancos e a confrontos históricos contra muçulmanos Foto: Twitter/via REUTERS

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Parte do material postado pelo assassino se assemelha ao discurso de ódio proeminente em áreas obscuras da internet. Sob o suposto anonimato da web estava um homem que escrevia com naturalidade sobre os preparativos para realizar um ataque horrível.

• Músicas

Enquanto dirige para a mesquita, o atirador ouve uma música animada com letra sobre um destrutivo conflito nacionalista e religioso europeu. A canção nacionalista sérvia sobre a guerra de 1992 a 1995 que dividiu a Iugoslávia glorifica os combatentes sérvios e o líder político servo-bósnio Radovan Karadzic, preso pelo tribunal de crimes de guerra de Haia por genocídio e outros crimes de guerra contra muçulmanos bósnios.

Um clipe no YouTube desta mesma música mostra prisioneiros muçulmanos magérrimos em campos administrados por sérvios durante a guerra. "Cuidado com ustashas e turcos", diz a canção, usando termos depreciativos em tempo de guerra para croatas e muçulmanos bósnios.

Destaque para as menções a Charles Martel, que teria derrotou muçulmanos na Batalha de Tours em 734 e ao número 14, slogan supremacista relacionado ao livro 'Mein Kampf' (Minha Luta) de Adolf Hitler Foto: Twitter/via REUTERS

Quando o atirador retornou ao seu carro após o ataque, a música "Fire", da banda inglesa de rock "The Crazy World of Arthur Brown", pode ser ouvida na gravação. O cantor grita: "Eu sou o deus do fogo do inferno!", enquanto o homem, um australiano de 28 anos, deixa o local.

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• Símbolos

Ao menos dois fuzis usados na ataque fazem referências a Ebba Akerlund, menina de 11 anos morta em abril de 2017 em um ataque com carro em Estocolmo por Rakhmat Akilov, um terrorista usbeque de 39 anos.

A morte de Ebbatambém é apontada no manifesto publico na internet pelo atirador como um dos eventos que influenciaram em sua decisão de iniciar uma guerra contra o que ele qualifica como os "inimigos da civilização ocidental".

No colete usado pelo atirador, há um grande Sol Negro, símbolo de grupos de extrema direita; já as dogtags carregam símbolos da cultura Celta e Viking em alusão à puresa da raça branca Foto: Twitter via Reuters

O número 14 também foi inscrito nos fuzis do atirador. É uma referência a "14 palavras" que, segundo o Southern Poverty Law Center, é um slogan supremacista branco relacionado ao livro Mein Kampf (Minha Luta) de Adolf Hitler.

Ele também usa símbolos do Schwarze Sonne (Sol Negro), que "tornou-se sinônimo de uma miríade de grupos de extrema direita", segundo a mesma organização, que monitora grupos de ódio.

• Referências Históricas

Em fotos publicadas na véspera do ataque em uma conta no Twitter associada ao atirador - e compatíveis com as armas que aparecem no vídeo - há referências a "Vienna 1683", ano em que o Império Otomano sofreu uma derrota na Batalha de Kahlenberg. Também há uma inscrição de "Acre 1189", sobre as Cruzadas, nas armas.

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Quatro nomes de sérvios que lutaram contra o domínio de 500 anos dos otomanos muçulmanos nos Bálcãs, escritos no alfabeto cirílico, também aparecem em partes dos fuzis usados pelo atirador.

O nome Charles Martel, que o Southern Poverty Law Center diz que os supremacistas brancos afirmam ter "salvado a Europa ao derrotar uma força muçulmana invasora na Batalha de Tours em 734", também estava no carregador de uma das armas. 

Também é possível ver a inscrição "Malta 1565", uma referência ao Grande Cerco de Malta, quando os malteses e os Cavaleiros de Malta derrotaram os turcos.

Os nomes de dois líderes militares húngaros do século 15, conhecidos por lutar contra o avanço dos otomanos, também são mencionados. O nome de John Hunyadi está escrito em um rifle, enquanto o nome de Mihaly Szilagyi Horogszegi está em uma das munições.

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