Ataque de Israel derruba prédio que abrigava redações da 'AP' e da Al-Jazeera em Gaza

Dez pessoas de uma mesma família morreram em bombardeio aéreo, a maioria menores de idade; escritórios da 'Associated Press' e da 'Al-Jazeera' foram atacados com aviso prévio

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Por Redação
Atualização:

CIDADE DE GAZA - Um ataque aéreo israelense destruiu um prédio na Cidade de Gaza que abrigava escritórios da Associated Press, da Al Jazeera e apartamentos residenciais neste sábado, 15. O Exército de Israel alertou sobre o ataque com uma hora de antecedência e ordenou que o prédio fosse isolado. O bombardeio destruiu o imóvel de 12 andares, que desabou. 

A investida aconteceu horas depois que outro ataque aéreo israelense a um campo de refugiados na Cidade de Gaza matou pelo menos 10 palestinos da mesma família, sendo oito crianças, segundo o grupo militante Hamas

Torre onde as redações da AP e da Al-Jazeera funcionavam é destruída Foto: Mohammed Salem / REUTERS

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Também houve protestos palestinos na sexta-feira, 14, na Cisjordânia, onde as forças israelenses atiraram e mataram 11 pessoas, dizem os palestinos. 

A espiral de violência aumentou o temor de uma nova intifada palestina, em um momento em que não há negociações de paz há anos. Os palestinos lembraram neste sábado,15, o Dia da Nakba, diz em que700 mil pessoas que foram expulsas ou fugiram de suas casas no que hoje é território de Israel durante a guerra de 1948. A data gera preocupações sobre mais inquietação entre os lados.

O ataque ao prédio que abriga os escritórios de veículos de imprensa ocorreu à tarde. O dono do imóvel recebeu um telefonema do Exército israelense avisando que o local era alvo da artilharia. A Al-Jazeera, a rede de notícias financiada pelo governo do Catar, transmitiu os ataques aéreos ao vivo enquanto o prédio desabava.

A Al-Jazeera não será silenciada”, disse uma apresentadora no ar. "Isso nós podemos garantir." 

A agência de notícias americana AP declarou estar "chocada e horrorizada". "Trata-se de um acontecimento incrivelmente perturbador. Nós evitamos por pouco uma terrível perda de vidas", disse o chefe da agência, Gary Pruitt, em nota.  “O mundo ficará menos informado sobre o que está acontecendo em Gaza por causa do que aconteceu hoje”, acrescentou.

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A Casa Branca disse que advertiu Israel que é "crucial" garantir a segurança dos jornalistas. "Comunicamos diretamente aos israelenses que é uma responsabilidade crucial cuidar da segurança dos jornalistas e da mídia independente", disse Jen Psaki, porta-voz da Casa Branca, no Twitter.

Mortes em campos de refugiados

O ataque mais mortal até agora atingiu uma casa de três andares no campo de refugiados de Shati, na Cidade de Gaza, matando oito crianças e duas mulheres de uma mesma família. Mohammed Hadidi disse que sua mulher e cinco filhos foram comemorar o feriado Eid al-Fitr com parentes. Ela e três das crianças, de 6 a 14 anos, foram mortas, enquanto um de 11 anos está desaparecido. Apenas seu filho de 5 meses, Omar, sobreviveu.

Brinquedos infantis e um jogo de tabuleiro de Banco Imobiliário podiam ser vistos entre os escombros. “Não houve nenhum aviso”, disse Jamal Al-Naji, um vizinho que mora no mesmo prédio. "Você vê pessoas comendo e depois as bombardea?" disse ele, dirigindo-se a Israel. O chefe do grupo militante, Ismail Haniyeh, disse em um comunicado que houve "um massacre hediondo no campo de Al-Shati".

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O tenente-coronel Jonathan Conricus, porta-voz militar, disse que o objetivo dos militares é minimizar os danos colaterais em ataques a alvos militares. Mas as medidas tomadas em outras investidas, como tiros de advertência para fazer os civis saírem, não foram "viáveis ​​desta vez".

 Entre os alvos nesses dois dias, de acordo com um comunicado do Exército, estava um dos quartéis-generais de Taufik Abu Naim, comandante das forças de segurança do Hamas, bem como vários "locais usados para disparos de foguetes" no norte e sul do enclave, além de "edifícios da inteligência militar" do Hamas.

Diplomacia americana em ação

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O diplomata americano Hady Amr chegou à região na sexta-feira, 14, como parte dos esforços de Washington para arrefecer o conflito. O Conselho de Segurança da ONU deve se reunir neste domingo, 16, para discutir o tema. Israel já rejeitou uma proposta egípcia de uma trégua de um ano -- o Hamas havia concordado.

Desde a noite de segunda-feira, 10, o Hamas disparou centenas de foguetes contra Israel, que revidou com ataques à Faixa de Gaza com ataques. Até agora,  pelo menos 139 pessoas foram mortas, incluindo 39 crianças e 22 mulheres. Em Israel, oito pessoas foram mortas, incluindo um homem neste sábado, 15, quando um foguete atingiu Ramat Gan, um subúrbio de Tel Aviv.

Bombeiros fazem buscas em alvo de foguetes do Hamas emTel Aviv Foto: Oren ZIV / AFP

Violência nas cidades mistas

O conflito repercutiu dentro de Israel. Cidades israelenses com populações mistas de árabes e judeus viram violência noturna, com turbas de cada comunidade lutando nas ruas e destruindo as propriedades umas das outras.

Na noite de sexta-feira, uma bomba incendiária atingiu a casa de uma família árabe no bairro de Ajami, em Tel Aviv, ferindo duas crianças. Um menino de 12 anos teve queimaduras na parte superior do corpo e uma menina de 10 anos foi tratada por um ferimento na cabeça, de acordo com o serviço de resgate Magen David Adom.

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