WASHINGTON - O embaixador dos Estados Unidos na União Europeia, Gordon Sondland, disse nesta quarta-feira, 20, que o presidente americano Donald Trump ordenou, através de seu advogado pessoal, Rudy Giuliani, o "quid pro quo", expressão que significa o popular "toma lá, da cá", em relação à Ucrânia, condicionando a ajuda militar ao país a uma investigação sobre a família do ex-vice-presidente e possível rival eleitoral Joe Biden.
"O senhor Giuliani estava expressando os desejos do presidente dos EUA, e sabíamos que essas investigações (sobre Biden) eram importantes para o presidente", disse Sondland, durante testemunho no Congresso dentro da investigação liderada pelos democratas para abrir um julgamento político contra Trump devido à pressão sobre a Ucrânia.
Sondland também reconheceu a existência do "canal paralelo" que este ano redefiniu a política de Washington em relação a Kiev, formada por ele, pelo secretário de Energia, Rick Perry, e pelo enviado especial para a Ucrânia, Kurt Volker. O eixo é conhecido como "os três amigos" e, seguindo as ordens de Trump, coordenou a política para Kiev com Giuliani.
"O secretário Perry, o embaixador Volker e eu trabalhamos com Rudy Giuliani em assuntos ucranianos, sob a direção expressa do presidente dos Estados Unidos", afirmou.
Sondland também afirmou que seguia ordens de Donald Trump no caso ucraniano. "Estávamos seguindo as ordens do presidente", disse o diplomata.
Em seu depoimento, Gordon Sondland confirmou a existência do "quid pro quo", uma expressão latina que significa dar algo em troca de algo mais e que está no centro da investigação.
"Houve 'quid pro quo?' Com relação à chamada solicitada da Casa Branca e da reunião da Casa Branca, a resposta é sim", disse o diplomata em seu depoimento inicial.
Essas declarações surpreenderam a bancada republicana, que esperava que o testemunho de Sondland protegesse os interesses de Trump.
Tentando se distanciar de Sondland, que fez declarações comprometedoras no Congresso sobre a pressão sobre a Ucrânia, Trump disse não ser próximo do diplomata.
"Não o conheço muito bem. Não conversei muito com ele", disse o presidente americano a repórteres na Casa Branca antes de ler algumas anotações que carregava, nas quais, segundo ele, ficou claro que ele nunca pediu a seu colega ucraniano, Volodmir Zelenski, para investigar um rival político.
Em um tuíte de 8 de outubro, Trump estava menos distante de Sondland, a quem o presidente nomeou como embaixador da UE, e o definiu como "realmente um homem bom e um grande americano".
Mudança de tom
A expectativa pelo testemunho de Sondland aumentou nas últimas semanas pois, depois de negar qualquer negligência em sua aparição inicial a portas fechadas, ele disse aos investigadores que os outros testemunhos tinham "revigorado sua memória" e reconheceu que ele próprio tinha comunicado em setembro ao governo ucraniano que os EUA não entregariam ajuda até que investigassem os democratas.
"Quando soubemos que a Casa Branca também havia suspendido a ajuda à segurança da Ucrânia, eu era categoricamente contrário a qualquer suspensão da mesma, uma vez que os ucranianos precisavam dessa verba para lutar contra as agressões", assinalou.
As audiências são retransmitidas inteiramente na televisão, diante da expectativa gerada entre a opinião pública e dentro da marcada polarização política no país.
As investigações da Câmara dos Deputados buscam determinar se Trump bloqueou intencionalmente a entrega de ajuda militar de US$ 400 milhões à Ucrânia para obter uma investigação em Kiev sobre os negócios de Biden e seu filho Hunter naquele país.
A caminho de se tornar o terceiro presidente americano a ser submetido a um processo de impeachment, Trump afirma que não fez nada de mal, que não houve nada irregular na conversa, e chamou a investigação de uma "caça às bruxas"./ EFE e AFP