Trump cancela encontro com Kim por 'raiva e hostilidade' demonstradas por Pyongyang

Em carta endereçada ao líder norte-coreano, presidente americano disse que deseja se encontrar com ele no futuro, mas que agora não seria o momento apropriado; decisão foi tomada após críticas de conselheira de Kim ao vice-presidente americano, Mike Pence

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Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington
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WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cancelou nesta quinta-feira, 24, a cúpula que teria com o norte-coreano Kim Jong-un no dia 12 de junho, no que seria o primeiro encontro da história entre líderes dos dois países. Em carta endereçada ao ditador, ele apontou "a tremenda raiva e hostilidade" de manifestações recentes do regime como justificativa de sua decisão.

Mas o americano deixou a porta aberta para continuidade das conversas em torno do programa nuclear de Pyongyang: "Se você mudar sua opinião em relação a essa cúpula de suma importância, por favor não hesite em me telefonar ou escrever".

Coreia do Norte afirmou mais tarde, (já sexta-feira no horário local) que ainda estava disposta a dialogar com os Estados Unidos  e qualificou a decisão de Trump de "extremamente lamentável". 

Na carta, ele adota um tom respeitoso e se dirige a Kim como "Sua Excelência". Ao mesmo tempo, faz uma ameaça velada: "Você fala sobre sua capacidade nuclear, mas a nossa é tão massiva e poderosa que eu rezo a Deus para que nós nunca tenhamos que utilizá-la".

Homemassiste televisão em Seul, na Coreia do Sul. À esquerda, o presidente americano, Donald Trump. À direita, olíder da Coreia do Norte, Kim Jong-un. Foto: AFP

Depois de adotar um tom conciliador desde o anúncio da cúpula, o regime norte-coreano reagiu com agressividade nos últimos dias a declarações de integrantes do governo Trump, que fizeram paralelos entre o país e a Líbia de Muamar Kadafi.

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O alvo mais recente foi o vice-presidente Mike Pence, classificado de "idiota político", "estúpido" e "ignorante" em comunicado de Pyongyang divulgado nesta quinta, horas antes de Trump cancelar o encontro. 

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No dia anterior, Pence disse em entrevista à Fox News que Kim poderia terminar como Kadafi caso não fechasse um acordo sobre seu programa nuclear com os EUA. O líder líbio abriu mão de suas armas nucleares em 2003. Oito anos depois, foi assassinado em um rebelião que teve apoio de forças americanas.

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"Nós nunca vamos implorar aos EUA por diálogo", disse a vice-ministra de Relações Exteriores da Coreia do Norte, Choe Son-hui. "Se os EUA vão se encontrar conosco em uma sala de reuniões ou em uma confrontação nuclear é totalmente dependente da decisão e comportamento dos americanos."

Trump observou ter sido informado de que o encontro havia sido solicitado pela Coreia do Norte. "Eu aguardava com expectativa estar lá com você", afirmou, referindo-se a Cingapura, onde ocorreria a cúpula. "O mundo, e a Coreia do Norte em particular, perdeu uma grande oportunidade para a paz duradoura, grande prosperidade e riqueza."

Na semana passada, Pyongyang já havia atacado o chefe do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, por ele ter sugerido o "modelo líbio" para as negociações com a Coreia do Norte. Segundo ele, o país deveria abrir mão de seu programa de uma vez - e não em etapas, em troca de contrapartidas - e aceitar um regime severo de inspeção.

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Na segunda-feira, Trump afirmou que a mudança de atitude de Kim ocorreu depois de seu segundo encontro com o presidente da China, Xi Jinping, no dia 8 de maio. O americano se disse "desapontado", mas ressaltou não saber se o chinês influenciou ou não o ditador. 

"O presidente Xi é um jogador de pôquer de primeira classe. Talvez nada tenha acontecido. Talvez tenha", observou, fazendo referência à habilidade política do líder comunista. 

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