Aliados dão a Merkel ultimato até o fim de junho para reduzir entrada de imigrantes na Alemanha

União Democrata-Cristã dá prazo à chanceler alemã para que obtenha um acordo com a União Europeia para limitar a entrada em território alemão de imigrantes que já passaram por outros países do bloco

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Por Andrei Netto , Correspondente e Paris
Atualização:

BERLIM - A chanceler alemã, Angela Merkel,tem 15 dias para negociar um acordo com a União Europeia que limite a chegada de imigrantes ao país. O ultimato foi dado nesta segunda-feira por seu aliado, a União Social-Cristã (CSU), que ameaça romper a coalizão de governo. Sem acordo, a “dama de ferro” da Europa corre o risco concreto de deixar o poder.

O ultimato da CSU tenta proteger um de seus líderes, o ultraconservador Horst Seehofer, ministro do Interior. Figura de proa do partido na região da Baviera, a mais industrializada da Alemanha, Seehofer enfrentará eleições regionais no segundo semestre e teme perder a hegemonia de 61 anos para o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD). 

Chanceler da Alemanha e presidente da União Democrata Cristã (CDU), Angela Merkel, ao lado do governador da Baviera e presidente da União Social Cristã (CSU), Horst Seehofer, durante convenção partidária do CSU em Nuremberg. Foto: AP Photo/Matthias Schrader

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A preocupação faz sentido porque a CSU registrou, em 2017, seu pior desempenho em décadas, reunindo 38% dos votos na Baviera, contra 10% dos radicais do AfD. Para tentar conter o avanço dos populistas, a estratégia do líder da CSU vem sendo radicalizar seu discurso sobre imigração.

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Na semana passada, Seehofer propôs a criação de uma aliança internacional contra a imigração aos governos da Itália e da Áustria – ambos nas mãos de partidos populistas. A estratégia é pressionar a chanceler a adotar um “limite máximo” no acolhimento de refugiados.

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As declarações e a pressão imposta à coalizão provocaram a revolta dos líderes do Partido Social-Democrata (SPD, de centro esquerda), também parceiro do partido da chanceler, a União Democrata-Cristã (CDU). Desde então, Merkel vem sendo pressionada a romper a aliança com a CSU e manter o mandato em uma coalizão que reuniria apenas CDU e SPD.

Alheio à controvérsia, Seehofer – membro do baixo clero do partido e conhecido nos meios políticos como “Crazy Horst” – lançou uma ameaça a Merkel ontem: ou a chanceler chega a um acordo com a UE para garantir que o fluxo imigratório seja redistribuído pelos outros 27 membros do bloco ou ele ordenará, na posição de ministro do Interior, o fechamento das fronteiras alemãs aos imigrantes, sejam eles candidatos a refugiados ou não. 

“Nós começaremos a partir de então a recusar sistematicamente todos os que se apresentarem na fronteira, mesmo com a proibição de entrarem na Alemanha”, advertiu. “É inimaginável que uma proibição de ingresso no território alemão não seja respeitada.”

Diálogo. Ao seu estilo, Merkel respondeu a Seehofer de forma moderada, tentando abrir espaço para a negociação. “Nós não queremos agir de forma unilateral, sem concertação e prejudicial a terceiros”, argumentou a chanceler, propondo reforçar as fronteiras externas da União Europeia, mas rejeitando recriar as alfândegas entre países do bloco. 

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Mas, segundo analistas políticos alemães, a estratégia de acomodar interesses de diferentes partidos da coalizão, usada pela chanceler nos seus três primeiros mandatos, pode estar chegando a seu limite. “A situação é explosiva. Para os protagonistas, o que está em jogo é sua sobrevivência”, afirma Thorsten Faas, cientista político da Universidade Livre de Berlim. “Se a coalizão explodir, dificilmente imaginaremos como Angela Merkel e Horst Seehofer poderão sobreviver no plano político.”

Em meio à crise interna da coalizão, a chanceler terá ainda de enfrentar a pressão externa sobre seu governo. Depois de entrar em choque com os líderes europeus na última reunião de cúpula do G-7, no Canadá, há duas semanas, ontem o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou o Twitter para atacar Merkel, insinuando que seu governo está à beira do colapso em função de sua política migratória. 

“O povo da Alemanha está se voltando contra sua liderança porque a migração está abalando a frágil coalizão de Berlim”, escreveu o americano, que associou imigração e criminalidade. “O crime na Alemanha está subindo. Grande erro cometido em toda a Europa ao permitir que milhões de pessoas mudem tão forte e violentamente sua cultura.”

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As declarações de Trump, entretanto, não resistem a uma simples checagem de dados. Em maio, um relatório do próprio Ministério do Interior alemão, dirigido por Seehofer, indicou que a criminalidade na Alemanha caiu 9,6% em 2017, em comparação com 2016, atingindo seu mais baixo nível em 25 anos.

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