Com 34 mil assassinatos, México bate recorde de homicídios em 2019

Analistas afirmam que fragmentação de grandes cartéis aumentou competição entre grupos menores e criticam falta de estratégias do presidente López Obrador

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Por Redação
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A polícia mexicana informou na sexta-feira, 17, que encontrou 14 corpos em 7 valas clandestinas em um arquipélago do Estado de Oaxaca, no sul do país. Os buracos de bala nos crânios não deixam dúvidas: foram todos executados. O caso reflete como em seu primeiro ano como presidente, Andrés Manuel López Obrador não conseguiu controlar a violência e o México fechou 2019 com recorde de homicídios: 34.132.

Soldado do Exército guarda cemitério clandestino encontrado em Lomas del Vergel, no Estado de Jalisco, no México Foto: Ulises Ruiz/AFP

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As cifras reunidas pela Secretaria de Segurança Pública, Exército, Marinha e Ministério Público ainda são preliminares – com dados até 20 de dezembro –, mas já representam um aumento com relação a 2018, quando 33.743 homicídios foram registrados no México. Especialistas, porém, estimam um total ainda maior. 

A ONG Causa en Común, que defende os direitos civis, calcula que 36 mil pessoas tenham sido assassinadas no país no ano passado – apenas 10% dos casos terminam com algum tipo de punição. “Em um ano, a política de segurança pública de Obrador não conseguiu resultados”, disse Francisco Rivas, diretor do Observatorio Nacional Ciudadano. “O que ele fez foi se concentrar no combate à pobreza, mas isso não reduziu o crime.”

López Obrador assumiu a presidência prometendo o fim da guerra às drogas com um discurso cordial e um slogan carinhoso: “abraços, e não balas”. Nos primeiros meses, criou a Guarda Nacional, com 70 mil homens, que deveria combater o crime, mas acabou sendo espalhada pelo país à caça de imigrantes a caminho dos EUA. 

Os erros do governo de López Obrador ficaram expostos em outubro, quando homens armados do cartel de Sinaloa tomaram a cidade de Culiacán, forçando a polícia a soltar Ovidio Guzmán, filho do traficante Joaquín “El Chapo” Guzmán, logo após sua prisão. O episódio foi seguido pelo brutal assassinato de três mulheres e seis crianças americanas pertencentes a uma comunidade mórmon no norte do país. 

Desaparecidos

Parte do problema, segundo analistas, está na estratégia de perseguir os chefões dos grandes cartéis, implementada pelos presidentes Felipe Calderón (2006-2012) e Enrique Peña Nieto (2012-2018). O resultado foi o enfraquecimento das grandes organizações criminosas e o surgimentos de grupos menores, que avançaram para ocupar um espaço territorial cada vez mais reduzido.

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A insegurança no México ganhou uma nova dimensão em dezembro, quando o governo de López Obrador refez as contas e divulgou um novo balanço de desaparecidos: 61.637 pessoas – 97% dos casos ocorreram a partir de 2006, quando Calderón lançou a ofensiva contra os cartéis.

Karla Quintana, chefe da Comissão Nacional de Busca, que coordena os esforços para encontrar os desaparecidos, disse que foram encontrados mais de 3 mil cemitérios clandestinos no México – bem mais do que estimavam jornalistas e especialistas. 

Analistas citam vários motivos para os desaparecimentos. Em alguns casos, os criminosos querem apagar pistas de crimes. Em outros, buscam espalhar um clima de terror para dominar a população. No início da década, partes do México se transformaram em campos de extermínio, com centenas de corpos incinerados em barris de petróleo ou dissolvidos em ácido. 

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“Estes números refletem uma calamidade, uma catástrofe humana”, afirmou José Miguel Vivanco, diretor da Human Rights Watch, ONG de defesa dos direitos humanos. De acordo com ele, 5.184 novos desaparecimentos foram registrados já no governo de López Obrador. “Os responsáveis são grupos mafiosos, gangues e cartéis, mas também agentes do Estado.” 

Outro problema do combate ao crime no México é o excesso de órgãos de segurança. Além de duas polícias federais, 31 estaduais, cada município tem uma polícia. No total, são mais de 2 mil corporações diferentes. A ponta mais frágil da cadeia são os policiais municipais, que têm direito a apenas um dia de férias por ano, 61% ganham menos do que um salário mínimo (US$ 140) e pagam pela munição que utilizam. Ao mesmo tempo, eles estão diante de 92,7% dos crimes e na linha de frente dos cartéis, portanto, mais vulneráveis à corrupção. /AP, WP e REUTERS

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