Reino Unido acusa Rússia de tentar substituir líder da Ucrânia e ameaça com sanções

A Rússia rejeitou a afirmação e acusou Londres de espalhar desinformação à medida que crescem os temores de que Moscou possa lançar uma invasão à Ucrânia

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Por Redação
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O Reino Unido disse no último sábado, 22, que tem informações confiáveis sobre os movimentos russos para instalar um líder pró-Rússia em Kiev à medida que crescem os temores de que Moscou possa lançar uma invasão à Ucrânia. Neste domingo, 23, o Reino Unido prometeu retaliar com sanções econômicas se Moscou instalar "um regime fantoche" em Kiev.

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De acordo com uma declaração do Ministério das Relações Exteriores, os serviços de inteligência russos tiveram contato com vários políticos ucranianos, e o ex-deputado Yevhen Murayev é visto como um líder em potencial da antiga república soviética, embora não seja o único.

A Rússia rejeitou a versão e acusou Londres de espalhar "desinformação". "A desinformação circulada pelo governo britânico é outro sinal de que os países da Otan, liderados por nações anglo-saxônicas, são os que provocam tensões sobre a Ucrânia", disse o Ministério das Relações Exteriores russo no Twitter.

O legislador ucraniano Yevhen Murayev participa de uma sessão do parlamento ucraniano, em Kiev, Ucrânia, em 26 de novembro de 2018 Foto: Vladislav Musienko/Reuters

A ministra britânica das Relações Exteriores Liz Truss, citada na declaração, diz que o relatório revela "a escala da atividade russa destinada a desestabilizar a Ucrânia". Truss exorta a Rússia a se engajar na desescalada e a acabar com suas campanhas de agressão e desinformação, seguindo o caminho da diplomacia.

"Haverá consequências muito sérias se a Rússia tomar essa medida para tentar invadir, mas também instalar um regime fantoche", disse o vice-primeiro-ministro britânico Dominic Raab à Sky News.

Yevhen Murayev respondeu às acusações, caracterizando como "absurdas". Em entrevista à Associated Press via Skype, ele disse que a alegação britânica “parece ridícula e engraçada” e que sua entrada na Rússia foi negada desde 2018 por ser uma ameaça à segurança russa.

Segundo ele, a sanção foi imposta após um conflito com Viktor Medvedchuk, o político pró-Rússia mais proeminente da Ucrânia e amigo do presidente russo Vladimir Putin.

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O partido Nashi de Murayev - cujo nome ecoa o antigo movimento juvenil russo que apoiou Putin - é considerado simpático à Rússia, mas Murayev no domingo recuou ao caracterizá-lo como pró-Rússia. “O tempo dos políticos pró-ocidentais e pró-russos na Ucrânia se foi para sempre”, disse ele em um post no Facebook.

“Tudo o que não apoia o caminho pró-ocidental de desenvolvimento da Ucrânia é automaticamente pró-Rússia”, disse Murayev à AP.

Escalada das tensões

Estas acusações do Reino Unido vêm no dia seguinte ao encontro dos chefes diplomáticos russo e americano Sergey Lavrov e Antony Blinken em Genebra para tentar diminuir as tensões na fronteira russo-ucraniana e concordaram em continuar suas conversações "francas" na próxima semana.

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Para os EUA, as acusações do Reino Unido são profundamente preocupantes. "O povo ucraniano tem o direito soberano de determinar seu próprio futuro, e nós apoiamos nossos parceiros democraticamente eleitos na Ucrânia", disse a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Emily Horne.

Os países ocidentais acusam a Rússia de enviar tanques, artilharia e cerca de 100.000 soldados para a fronteira ucraniana em preparação para um ataque. O Kremlin nega qualquer intenção bélica, mas faz depender a desescalada de tratados que garantam a não expansão da Otan, particularmente na Ucrânia, bem como a retirada da Aliança Atlântica da Europa Oriental, algo que os ocidentais consideram inaceitável.

No início da terça-feira, a Casa Branca alegou que o presidente russo Vladimir Putin poderia ordenar o ataque "a qualquer momento" e advertiu que o Ocidente "não descarta nenhuma opção".

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Na declaração de sábado, Truss disse que "qualquer incursão militar na Ucrânia seria um grande erro estratégico" e teria "custos sérios" para a Rússia.

O chefe da marinha alemã Kay-Achim Schönbach descartou o cenário de uma invasão russa na Ucrânia como "bobagem". Estas declarações motivaram sua demissão no sábado, anunciou o Ministério da Defesa alemão.

Com um nome e um sobrenome

A lista de pessoas - mencionadas pelo nome na declaração britânica - que foram sondadas pelos serviços russos também inclui o ex-primeiro ministro Mykola Azarov, que fugiu para a Rússia com o então presidente Viktor Yanukovic em 2014, após uma revolta popular em Kiev.

Os outros são o ex-chefe do Conselho Nacional de Segurança e Defesa Vladimir Sivkovich (sancionado esta semana pelos EUA junto com outros três políticos ucranianos por suposta cooperação com os serviços de inteligência russos), o ex-primeiro ministro Serhiy Arbuzov e o ex-chefe de gabinete presidencial Andriy Kluyev.

A acusação britânica também vem poucas horas depois que o Ministro da Defesa russo Sergey Shoigu aceitou um convite para encontrar-se com seu homólogo britânico Ben Wallace para discutir a crise na fronteira ucraniana. A reunião acontecerá em Moscou.

O encontro bilateral, que seria o primeiro desde 2013, visa "explorar todas as vias para alcançar a estabilidade e a resolução da crise ucraniana", disse no sábado uma fonte do Ministério da Defesa britânico./AFP, AP e REUTERS

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