Trump pediu a advogado que mentisse em depoimento no Congresso sobre campanha de 2016, diz jornal

Michael Cohen havia afirmado em novembro que já tinha mentido, mas não a pedido do presidente; prática pode ser considerada crime de obstrução de justiça

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teria pedido ao seu ex-advogado Michael Cohen que mentisse em depoimento diante do Congresso sobre a ligação dos russos com a campanha presidencial americana de 2016, informaram duas fontes do governo federal ao site de notícias Buzzfeed News na noite de quinta-feira 17. Democratas já exigem investigação e o republicano pode ser acusado pelo crime de obstrução de justiça.

Por meses, procuradores federaisexaminaram os negócios pessoais de Cohen e sua participação em acordos financeiros com mulheres ligadas a Trump Foto: Yana Paskova / Getty Images / AFP

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O indicado a Procurador-Geral da República, William Barr, ainda aguardando aprovação do Senado americano, já havia afirmado no começo desta semana ao senador republicano Lindsey Graham que a prática pode ser considerada crime sob o estatuto de obstrução. Em pelo menos outras duas vezes, o advogado reafirmou a sua visão, o que pode colocar a Casa Branca em maus lençóis.

Barr é nomeado de Trump para a chefia da Procuradoria-Geral dos EUA, substituindo Jeff Sessions, ex-aliado do presidente e demitido do governo.

De acordo com o professor de Direito da Universidade de Stanford Alan Sklansky, o problema para a Casa Branca não é que Barr tenha dito algo imprudente, mas sim que uma visão favorável ao presidente seria indefensável. Segundo Sklansky, a lei é clara. “Isso limita a habilidade de Barr de tomar uma posição particular em defesa do presidente, mas que seria insustentável de qualquer jeito”, disse o professor ao jornal Washington Post. “Seria mais estranho defender a nomeação de um Procurador-Geral que não pense que isso é obstrução de justiça. Não é uma posição controversa.”

Barr, ex-Procurador-Geral na gestão do presidente George H. W. Bush, não deixou dúvidas sobre suas visões em um memorando enviado ao Departamento de Justiça no ano passado. O advogado havia criticado o procurador especial Robert Mueller, responsável pela investigação sobre o suposto envolvimento da Rússia nas eleições de 2016, por focar em ações que não poderiam ser consideradas obstrução, como demitir funcionários do governo. Mas Barr foi claro sobre o que ele chamou de “clássico sentido” do conceito de obstrução criminal: “sabotar a determinação da verdade de um processo”.

O ato de suborno de perjúrio, ou incitar alguém a prestar um falso testemunho, constituiria obstrução de justiça, afirmou Sklansky, porque claramente envolve tentativa de corrupção. Esse é o elemento que Barr e outros acreditam que esteja faltando da decisão de Trump em demitir funcionários do governo, como o ex-diretor do FBI James Comey. “É difícil ver como você pode pedir a alguém para mentir ao Congresso sobre fatos concretos sem ter uma tentativa corruptora”, afirmou o professor de Stanford.

Robert Mueller, promotor especial responsável pelas investigações sobre a interferência russa nas eleições de 2016 nos Estados Unidos Foto: Saul Loeb / AFP

Em novembro de 2018, Michael Cohen, então leal ajudante de Trump, se declarou culpado por mentir em testemunho sobre o mesmo assunto. Em dezembro, ele foi sentenciado a três anos de prisão. O advogado é aguardado para testemunhar diante o Comitê de Supervisão da Câmara no próximo mês.

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A Casa Branca não respondeu ao pedido de comentário do jornal. O advogado de Trump, Rudy Giuliani, duvidou das informações e desacreditou de Cohen. / WASHINGTON POST

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