25 de setembro de 2019 | 11h49
WASHINGTON - A transcrição do telefonema entre o presidente americano, Donald Trump, e o ucraniano Volodmir Zelenski confirma que o republicano pediu que o líder ucraniano investigasse o democrata Joe Biden, seu possível rival nas eleições de 2020. A Câmara dos Deputados liberou na terça-feira, 24, abertura de inquéritos que podem levar ao impeachment de Trump.
Trump ofereceu se encontrar com Zelenski na Casa Branca depois de o ucraniano prometer conduzir a investigação sobre Biden e seu filho Hunter, que trabalhou na diretoria de uma empresa de gás ucraniana quando o pai era vice-presidente dos Estados Unidos. Em uma entrevista coletiva em Nova York ao lado de Trump, Zelenski negou ter sido pressionado pelo presidente americano.
A conversa fez com que uma fonte da comunidade de inteligência americana fizesse uma denúncia anônima sobre o comportamento do presidente. A Direção Nacional de Inteligência deveria repassar a denúncia ao Congresso, mas não o fez.
A chamada começa com Trump parabenizando Zelensky pela vitória eleitoral. O republicano então, rapidamente muda de assunto e pressiona pela investigação de seus rivais políticos, endossando, aparentemente uma teoria da conspiração.
Ele sugere que havia servidores de e-mail da democrata Hillary Clinton no país e sugere que o promotor especial Robert Mueller começou as investigações na Ucrânia.
“Gostaria que meu procurador-geral ligasse para o seu pessoal e gostaria que você fosse a fundo nisso”, disse Trump. Então, Trump começa a falar de Biden.
“Estão falando muito sobre o filho de Biden. Que Biden parou uma investigação. Muitas pessoas querem descobrir algo sobre isso. Então o que você puder fazer com o procurador-geral seria ótimo”, afirmou o presidente, segundo a transcrição. “Biden saiu se vangloriando que ele parou a investigação então se você puder examinar isso... me parece horrível.”
Zelenski responde que seu candidato a procurador-geral na Ucrânia examinaria o caso de Biden. “Ele vai olhar o caso, especificamente a empresa que você mencionou na questão”, diz o ucraniano.
Segundo a Casa Branca, a transcrição mostra que Trump não vinculou a investigação em troca de ajuda financeira à Ucrânia. Quando o presidente pergunta a Zelenski como os Estados Unidos podem ajudar a Ucrânia, Zelenski responde que gostou das sanções que Washington impôs à Rússia.
A presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, anunciou nesta terça-feira, 24 os primeiros passos para o impeachment do presidente americano Donald Trump. Ela abrirá uma investigação formal para determinar se Trump pode ser afastado do cargo. Os democratas acusam Trump de usar o cargo para perseguir um adversário político.
"O presidente precisa ser responsabilizado pelos seus atos", disse Pelosi. "Ninguém está acima da lei." Ao menos 206 deputados democratas já apoiam o impeachment, que precisa de 218 votos para aprovação.
Pelosi encarregou seis comissões da Câmara de abrir inquéritos sobre possíveis violações cometidas por Trump. Qualquer uma delas pode determinar se houve irregularidades. A partir de então, os democratas votarão para determinar se o processo será aberto e levado ao Senado.
Pelosi há meses resistia a autorizar medidas similares. A presidente da Câmara foi convencida a mudar de ideia pelos colegas de bancada, depois de relatos de que Trump teria pressionado o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, a investigar o pré-candidato democrata à presidência Joe Biden e sua família. O filho de Biden, Hunter, trabalhou em uma empresa de gás no país quando o pai era vice-presidente dos EUA.
Em pronunciamento nesta tarde, Biden acusou Trump de "rasgar a Constituição". "Se Trump continuar a obstruir o Congresso, não haverá alternativa que não seja iniciar o impeachment", disse. Pouco antes, Trump prometeu divulgar sem cortes a transcrição da chamada que manteve com Zelenski.
Destituir o presidente efetivamente, porém, seria ainda mais complicado, porque exigiria o apoio de boa parte da bancada republicana no Senado - um núcleo duro do governo Trump.
A maioria dos congressistas republicanos se manteve em silêncio sobre os relatos de que o presidente teria pressionado o líder ucraniano a investigar Hunter Biden, filho do ex-vice-presidente.
O teor da denúncia anônima contra Trump chegou na noite desta quarta ao líder do Comitê de Inteligência da Câmara dos Deputados, o democrata Adam Schiff.
A jornalistas, ele disse que as alegações são “extremamente perturbadoras”. “É muito pior do que nós imaginávamos”, disse Schiff. “Eu quero agradecer ao denunciante por ter se posicionado. Acho que o que esse indivíduo corajoso fez expôs sérias violações.”
De acordo com Schiff, os deputados estavam em contato com um advogado que representa o delator. O democrata garantiu que ele gostaria de prestar depoimento ainda esta semana.
A presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, confirmou que recebeu e leu a denúncia, mas não poderia comentar seu conteúdo.
Na Câmara, por unanimidade, os deputados aprovaram nesta quarta uma resolução que solicita que a Casa Branca encaminhe ao Congresso o documento com o texto da denúncia, que foi visto por Pelosi e Schiff em locais “seguros”.
Eles argumentam que os apoiadores de Trump estão quebrando uma lei federal que implica que denúncias anônimas de autoridades sejam enviadas ao Congresso quando consideradas “críveis”.
O diretor interino de Inteligência Nacional, Joseph Maguire, defendeu que não se trata de uma “preocupação urgente”, e por isso o documento ainda não está no Congresso. / WASHINGTON POST, NYT e REUTERS
Leia abaixo a transcrição (em inglês) da conversa entre Trump e Zelenski divulgada pela Casa Branca:
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